A maior parte de nós cresceu sem qualquer consciência das razões que nos levaram a escolher os nossos pais. Não faz parte da nossa cultura querer saber para que as coisas acontecem ou sequer a ideia de que vivemos num Universo inteligente. Não encontramos por isso informação nem nos pais, nem na escola, nem nos médicos, nem sequer na religião que curiosamente teria esse papel de unir o Céu a Terra.
Essa ignorância espiritual é a responsável por idealizarmos e esperarmos os pais perfeitos que obviamente não existem, criando desde cedo embates que difíceis de parte a parte. E quanto mais tensa e difícil a relação, mais sofrimento ela irá causar, mais emoções pesadas ela irá alimentar, mais mecanismos de sobrevivência e proteção iremos desenvolver.
Por ignorância, não iremos no entanto fazer o mais importante, o mais saudável e o mais libertador; compreender as razões que nos levaram a escolher os nossos pais para que então possamos dizer com toda a paz e amor; “Tu és ou eras o pai e a mãe perfeitos para mim e a pessoa que eu precisava para a história, lições e aprendizagens desta minha encarnação.”
Até que este movimento mágico de reconhecimento, libertação, cura e aceitação aconteça, iremos passar por alguns passos que observei serem comuns a muitos de nós:
– Primeiro vamos exigir e esperar a perfeição dos pais.
– Depois cairemos numa enorme desilusão com os pais quando admitimos que são o que são e não irão mudar com as respectivas emoções da tristeza, revolta, ressentimento, solidão, rejeição e outras.
– Alguns irão tentar “salvar” os pais para que possam ser o que gostariam ou pior ainda, transferir essa necessidade para outras pessoas como uma nova família, uma relação, um filho, mas desta vez PERFEITOS. Escusado será dizer que será a desilusão número 2.
– Mais cedo ou mais tarde, iremos em busca da cura, da terapia, de leituras, de cursos, da tentativa de aceitação e pacificação das dores que os pais “imperfeitos” causaram.
– Algures iremos encontrar o melhor terapeuta; aquele que nos mostra o espelho, aquele que nos irá ajudar a ver a nossa sombra, as nossas imperfeições, as nossas dores, as nossas falhas, defeitos projetadas nos pais.
– Pela primeira vez, depois de anos de projeção e arrogância, nasce a humildade e a consciência da razão que nos fez escolher os pais.
– Renascemos com amor e compreensão no coração de finalmente vermos os pais como mestres do que em nós precisa de cura. De graças a eles podermos curar as velhas feridas e desbravar um novo caminho
Do ponto de vista da nova alma que encarna, ela faz um projeto e define propostas de aprendizagem que irão implicar pessoas e circunstâncias já pré-definidas, a começar pelos pais. Por isso é tão importante conhecer esse plano, pois a vida irá trazer-nos não o que queremos ou gostaríamos mas sim o que está em sintonia com esse plano.
Não é raro por isso vermos relações tensas ou total afastamento dos pais quando eles estão vivos ou uma enorme culpa ou peso de não ter havido cura e pacificação depois de eles partirem.
É importante lembrar que a cura é um processo pessoal. Nada tem a ver com pedidos de desculpas, fazer pazes, abracinhos ou perdões e não precisa sequer de envolver a pessoa com quem sentimos tensão. A cura é pessoal, é interna, implica mudança de perspectiva interna do julgamento para a compaixão. Ou seja, usando uma frase maravilhosa do Terapeuta Bert Hellinger, “a paz acontece quando todas as pessoas da nossa vida têm um lugar de amor no nosso coração”.
Se ainda não consegues ou sentes atrito, tensão e julgamento para com algum dos teus pais, acredita que não só é possível dissolver e transformar essas energias como elas são essenciais ao teu processo de crescimento e evolução pessoal.
Vera Luz
Imagem de Victoria Model por Pixabay