Onde anda a minha Alma-gémea?

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No que toca ao tema do Amor e dos relacionamentos, todos escondemos aquele desejo secreto de encontrar alguém que nos venha preencher o nosso eterno vazio. Alguém com quem nos vamos identificar a todos os níveis e viver uma vida “feliz para sempre”. Por mais que a vida nos prove e mostre, tanto pela nossa experiência como pela dos que nos rodeiam que esse ideal é uma fantasia, algo em nós agarra-se teimosamente a ela.

Idealizámos desde sempre o conceito de alma-gémea, fizemos filmes românticos com happy-endings, criámos desenhos animados com histórias de amor para sempre, e continuamos a alimentar o conceitos através de músicas, livros, novelas, filmes, etc e até a religião incentiva e sacraliza a união de duas pessoas,  fazendo-nos acreditar que existe alguém que nos irá completar.

Por serem uma fonte infinita de emoções maravilhosas, por aparentemente parecerem preencher o nosso vazio e esconder as dores da nossa solidão, acabamos todos apegados à ideia de encontrar essa dita pessoa ou esse relacionamento que, quando o encontrarmos, irá resolver todas as nossas dores  e vazios.

Mas contra factos não há argumentos. Basta olharmos à nossa volta para observarmos que não há provas da existência de tal relacionamento perfeito e equilibrado e muito menos para sempre. Até as relações longas, casamentos de uma vida inteira, escondem dentro de si profundos apegos e questões existenciais de identidade que serão adiadas, quantas vezes para uma nova encarnação.

Não nego que existem enormes e inexplicáveis atracções, um sentimento de já nos termos conhecido antes, de conforto ou familiaridade junto de certas pessoas, mas precisamos questionar a idealização romântica e o “juntos para sempre” que nos venderam nos filmes da Disney.
Mais do que lhes chamarmos alma-gémea e continuarmos a alimentar essa ilusão da existência de uma alma que vem completar o que nos falta, chamemos-lhes sim “relacionamentos Kármicos” pois na verdade essa identificação especial que sentimos com determinadas pessoas, são apenas relembranças da nossa alma quando reencontra alguém com quem já teve em vidas passadas.

Por mais romântica que a situação pareça, por mais sintonia que sintamos com determinadas pessoas, precisamos lembrar que muito antes de chegarmos ao amor a dois, precisamos passar o teste do amor próprio e infelizmente a maioria descarta este, colocando assim em causa a sobrevivência e qualidade do amor a dois. No entanto o amor próprio é precisamente o retorno à unidade que somos, a consciência de que somos já inteiros e criadores da nossa própria luz, amor e abundância, envolve um complexo paradoxo que diz que quanto mais amor próprio e autonomia emocional, mais oportunidade tem a relação de sobreviver. Tal como o oposto é real; quanto mais dou ao outro, quanto mais dependo e espero do outro, menos recebo, mais sujeita estou à rotura, perda, desilusão com o outro estou.

É precisamente este fenómeno que a maior parte não entende. O Universo tem um mecanismo de auto-cura, de manutenção do equilíbrio, leis que garantem a harmonia da polaridade e como disse acima, antes do equilíbrio a dois, terá que acontecer o equilíbrio individual. Se uma das partes ainda procura a harmonia com o outro, sem ter conquistado a sua harmonia pessoal, a solidão, a rejeição, o abandono, será não a proposta desejada mas sim a proposta necessária. Pode até ser um momento de dor, mas será uma dor alquímica, uma dor que se bem aproveitada e entendida, nos levará no caminho do amor próprio e por efeito, do amor a dois.

Deste ponto de vista, temos lições duras e desconfortáveis que começam como maravilhosas histórias de amor, assim como aprendemos as mais belas lições que começaram com desafios extremamente difíceis.
O problema começa quando romantizamos sempre as histórias de amor, iludimo-nos com a ideia de alma gémea e rejeitamos por completo as lições e propostas de consciência e transformação que as mesmas acarretam.

Após aquele momento “cor-de-rosa” da atracção mútua que nos liga a esses laços karmicos do passado,  virão ao de cima essas mesmas energias reprimidas, em busca de evolução e Luz.

Deste ponto de vista, cada relacionamento é então uma maravilhosa oportunidade de nos libertarmos de energias negativas, de medos enraizados, da elevar a nossa vibração, de resgatar a nossa autoridade, de ganhar alguma humildade ou simplesmente aprendermos sobre o Amor incondicional. Sabendo que atraímos o que carregamos, esteja ele consciente ou inconsciente, os relacionamentos são também uma oportunidade maravilhosa de reconhecermos em que estado energético realmente estamos e de ver no outro reflexos do que ainda temos por trazer à consciência .

A questão é que somos seres individuais responsáveis pelo nosso percurso e evolução pessoal. Caso o nosso “parceiro” Karmico escolha não evoluir ou esteja a vivenciar experiências diferentes ou opostas à nossa não deverá ser impedimento para que não continuemos a nossa caminhada e adiemos esse apoio. Afinal vivemos no 3D extremamente condicionados pelo Espaço e Tempo. Nesses casos, as separações são inevitáveis embora muitos, por apego, escolham suspender a sua evolução para manter esses mesmos relacionamentos. Uns por medo da solidão, outros por insegurança de viver uma vida sem as velhas bengalas, a maior parte por simples ignorância deste processo.

Infelizmente são escolhas feitas sem a consciência de que ao suspendermos a nossa evolução estamos a assinar uma vida de frustração, vazio e solidão para não dizer pior.

Precisamos tirar os óculos cor-de-rosa. Precisamos de reaprender a olhar para os relacionamentos com mais realidade, como fontes crescimento pessoal assim como, claro, de prazeres momentâneos. Seria maravilhoso passamos a usar mais a palavra companheiro/a do que namorado/a ou marido/mulher ou mesmo o “meu amor”. Companheiro no sentido de alguém que nos “acompanha” na nossa viagem e nós na dele/a. Alguém que aprecia a nossa companhia e que respeita o nosso espaço e liberdade de maneira de ser. Alguém que gostamos de ter por perto sem carência e sem “precisarmos” dela.

Tudo o que vá para além disto torna-se apego, negócio e irá, mais cedo ou mais tarde ser uma fonte de dor.

No campo da fantasia não cresci diferente da maioria e gosta ainda de acreditar que é possível viver relações mais saudáveis do que as que vimos nos nossos pais e nos nossos avós e em tantas ainda nos dias que correm. Mas terão que ser relações baseadas em escolhas conscientes e não mais em carências escondidas e disfarçadas. Serão relações entre dois elementos acordados para o crescimento pessoal, respeito e entreajuda mútua. Serão relacionamentos isentos de cobrança, culpa e julgamento. As conversas serão partilhas sobre as descobertas que cada uma vai fazendo sobre a sua caminhada pessoal.

Enquanto ainda houver carência, projecção, expectativa, cobrança, enquanto não fecharmos essas energias em nós e assumirmos a responsabilidade sobre o estado da nossa pessoa, lamento ser a portadora da noticia que não haverá relacionamento equilibrado ou saudável. Haverá relacionamentos sim mas apenas para gastar essas velhas energias, levar cada um ao limite das mesmas e assim, tal como nos ensinam os antigos, poder virar no contrário.

Bem hajam!
Vera Luz

 

Imagem de 🎄Merry Christmas 🎄 por Pixabay

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1 comentário

  1. Maria da Paz on

    Adoro tudo k escreve…tudo fica mais claro…mais compreensível…
    Considero k é muito importante nos conhecermos internamente…como funcionamos…mas é um processo difícil…mas k Vale muito a pena.
    Obrigada Vera Luz
    Bem haja

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