A Criança Interior ferida

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O que responderias se te perguntasse; o que sentes pela criança que um dia foste? por aquela parte de ti que provavelmente não teve o amor que precisava, não era valorizada por quem a rodeava, não teve o colinho necessário, não era respeitada a sua diferença, não se sentia protegida ou segura com ninguém, aquela que foi alvo das frustrações, vazios e idealizações dos adultos à sua volta?

A maioria ainda responde; -“Pena”

Infelizmente esta resposta é mais comum do que seria ideal. Mas é típica de uma profunda falta de empoderamento da própria história e de sabedoria para entender os porquês dos acontecimentos da infância, e um dos muitos empecilhos que impedem a abundância de chegar a nós.

Ou seja, se ainda existe vitimização, se ainda há sentimento de pena em relação ao que passámos na infância, ainda não há resgate do nosso poder pessoal. Ainda não há responsabilização pela nossa história. Ainda não se activou o sentimento de amor próprio no trabalho de integração com a criança interior, que esse sim abre a porta da abundância. Ainda não conseguimos ver as dinâmicas Karmicas que nos trouxeram, não o que queríamos, mas sim o que precisávamos e preparámos como plano de evolução para a vida presente.

Se ainda existe um sentimento de pena pelas dores ou condições que passámos, não há ainda integração da sombra de considerarmos que um dia fomos nós a causar a mesma dor que agora sentimos, não há ainda noção de poder pessoal de sermos co-criadores da nossa própria história. Estamos ainda em estado de desempoderamento pessoal, presos à visão curta da ignorância de sermos vitimas de um qualquer carrasco fora de nós.
Há alguns sinais no adulto que podemos reconhecer associados à criança interior;

  • Adoptar a postura da criança perante os desafios da vida
  • Comenta, julga e critíca a vida e atitudes dos pais
  • Não consegue ver os pais como homem e mulher, imperfeitos, incapazes pelas suas próprias dores
  • Tendência a chamar a atenção, seja pelo comportamento tóxico, excesso de peso, vícios, vitimização ou cobranças e exigências várias
  • Sensação de tristeza, irresponsabilidade e desânimo perante os seus assuntos
  • Tem conflitos regulares com as pessoas e há uma tendência tanto a julgar umas como a apegar-se e a depender de outras
  • Procura a mamã ou o papá nas relações mantendo-se no lugar da criança, esperando proteção do outro
  • Fala regularmente do passado com mágoa
  • Emoções desreguladas, instáveis não raras vezes com picos de frustração e raiva projetados nos outros como culpados da sua dor
  • Resiste a ser ajudado ou a procurar ajuda
  • Usa esquemas de fuga e auto-boicote para amadurecer, ganhar responsabilidade e fugir ao lugar do adulto  

Quando fazemos o trabalho de integração, a partir da lente da cura que sempre integra o todos, percebemos que nós e os outros somos a vítima e o carrasco, apenas desfasados no tempo e no espaço. Percebemos inclusive que qualquer que seja o estado em que estamos ou estivemos na infância, ele foi uma escolha feita por nós, num nível muito superior do que aquele que a nossa mente inferior consegue entender. É dessa perspectiva que, seja qual for o nosso estado, ele é sagrado, é um degrau essencial na viagem rumo ao equilíbrio.
O processo de maturidade começa quando;

  • Adoptar a postura do adulto, responsável, autónomo, maduro que assume a responsabilidade em abraçar a sua história pessoal e os seus padrões
  • Desenvolver compaixão e tolerância pelas suas dores e processo de crescimento pessoal e reconhecer os outros como peças fundamentais do seu puzzle
  • Conseguir ver os pais como pessoas normais, que um dia também foram filhos/crianças, que tiveram as suas próprias infâncias difíceis, dores, carências e frustrações e quantas vezes, pais difíceis nas suas infâncias. 
  • Libertar os pais dos seus erros, falhas e imperfeições, percebê-los como perfeitos de acordo com o seu Karma pessoal e assumir o comando da PRÓPRIA Vida.
  • Agradecer aos pais a Vida, a oportunidade de vir à Terra e permitir evoluir e curar as feridas pessoais e da família da qual fazemos parte.
  • Lembrar que não foi a família que nos fez sofrer. Nós já trazíamos a dor de vidas passadas e escolhemos os pais e a família que melhor espelho reflectia o nosso drama interno. 
  • Desenvolver a disciplina e responsabilidade pela nossa vida, emoções e pelo nosso corpo, resistindo e evitando fugas de compensação como esconder emoções, comer demais, fugir das responsabilidades, etc.
  • Fazer terapia para a transformação de resíduos emocionais, para o auto conhecimento e alinhamento interno com o objetivo espiritual da encarnação.

É dessa perspectiva que então passamos do sentimento de pena para o sentimento de orgulho de nos disponibilizarmos para as provas que estavam traçadas. É dessa aceitação e visão superior que nasce o sentimento de amor próprio, quando percebemos que aquelas provas e a capacidade de as superarmos, foram essenciais à nossa evolução e resgate de quem somos hoje.

Não podemos mudar o passado. Mas podemos sim e devemos estudá-lo para percebermos de onde viemos e assim e passar a aceitá-lo como nosso, como o essencial para a limpeza karmica, como referência do que precisa de transformação em nós.

O objectivo da terapia da criança interior ou mesmo da regressão à vida passada não é a de mudar o que nos aconteceu, mas sim a de mudar a nossa perspectiva, a nossa atitude perante o que nos aconteceu e descobrir que afinal era o enredo Karmico que nos pertencia, era o necessário para cumprirmos a nossa história. É sairmos da postura da vitima para a postura do herói. É sairmos da arrogância de resistir à dor ou de projectá-la nos outros para a de aprendermos a aceitá-la como purificadora.

Ainda estamos longe de viver no tempo em que a mente caminha lado a lado com o coração. Na maior parte do tempo os dois ainda andam desfasados no tempo e no espaço, o que nos cria alguns dilemas internos. Por exemplo, a cabeça já entende e percebe a visão espiritual mas o coração ainda está preso na dor e no drama. E infelizmente, é precisamente a emoção que nos faz atrair as dinâmicas externas correspondentes como oportunidade de cura.

O mergulho interior, o trabalho de desenvolvimento pessoal é essencial para fazer esta união e conseguir este equilíbrio. Só através desta viagem interna conseguimos pacificar e libertar estas energias do passado para que consigamos passar da visão da ‘pena’ para a visão do ‘amor’ pela nossa história. Essa pequena gigante mudança é a diferença entre uma energia aberta e uma energia fechada. E todos sabemos pela qual ansiamos. Aproveitemos então estes tempos quentes e banhos salgados para purificarmos os nossos corpos e as nossas energias..

Bem hajas!
Vera Luz

https://veraluz.pt/minha-querida-crianca-gostava-muito-que-soubesses-que-%f0%9f%92%9d/

Crescer é obrigatório, amadurecer é opcional

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Imagem de Jill Wellington por Pixabay

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