Trazemos da infância, ou melhor, ainda do útero, os mecanismos de dependência e apego que nos permitiram sobreviver. Afinal, antes e depois do nascimento, é uma altura em que precisamos do outro para tudo! Dentro do útero para viver e depois do nascimento e ainda durante alguns anos, para sobreviver.
Nessa tenra idade, não temos ainda regras de sociabilização desenvolvidas, o processo de individuação não está feito, não há consciência pessoal e muito menos maturidade e por isso o que nos movimenta é o instinto, princípio do prazer e da satisfação imediata. Seja o desconforto, a dor física ou emocional, o sono, a fome, a sede ou simplesmente a necessidade de atenção, têm que ser resolvidas imediatamente. Ou seja, o bebé não sabe esperar pela satisfação, não sabe adiar a sua necessidade e por isso, vai desenvolver tácticas, esquemas, manias, jogos que lhe garantam que tem o que precisa o mais depressa possível, das quais as mais comuns, o choro, a birra e o riso se destacam pois fazem atrair o adulto e consequente satisfação da sua necessidade.
Obviamente que qualquer adulto minimamente saudável, maduro e responsável sabe que as suas necessidades básicas nem sempre podem ser resolvidas no momento imediato e muito menos devem ser satisfeitas por alguém. Ser adulto, amadurecer, cumprir um processo de individuação e responsabilidade pessoal passa precisamente pela capacidade de aprendermos a ser auto suficientes fisicamente (€), emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente, o que implica libertar todo e qualquer mecanismo infantil de dependência e manipulação que leve os outros a satisfazerem as nossas necessidades.
No entanto, embora a sabedoria da vida vá, na maioria dos casos, ensinando a difícil lição de Saturno que é esperar, adiar o prazer imediato e lidar com o difícil, nem todos conseguimos cedo aprender a lidar disciplinadamente com o sono, a dor, a fome, o desconforto ou a sede. Sem processo de maturidade, as tácticas e esquemas que desenvolvemos em criança tendem a sobreviver inconscientemente e vão tentar manter o “jogo” da manipulação e satisfação imediata, o mais tempo possível. A posição do eixo Capricórnio e Caranguejo e o estado dos seus regentes e respectivas casas mostra como cada um carrega em si estas energias.
Até que estes movimentos sejam observados e trazidos à consciência, até que o próprio os identifique e transforme, eles tenderão a perpetuar-se pela idade adulta, transferindo para as pessoas à sua volta as suas carências e satisfação egoísta e imediata. Ou seja, quando não é feito o processo de desenvolvimento pessoal, de maturidade ou individuação, há uma tendência natural a manter os padrões da infância activos como sendo os “normais”.
Há no entanto muitas variantes destes esquemas instintivos e inconscientes trazidos da infância. Por exemplo, um bebé aprende cedo que sorrir e fazer sons a rir, mantém a mãe mais tempo com ele do que se estiver quieto e calado é natural que seja o adulto brincalhão. Ou a criança que observou que se fizer asneira com a comida ou evitar comer, que mantém a mãe por perto mais tempo e até a dar-lhe a comida à boca pode dar problemas com a comida, obesidade, anorexia, etc. Ou a criança que percebeu que um ataque de raiva ou um choro bem alto (birra) lhe garante satisfação imediata da sua necessidade do momento pode sobreviver como o bully na escola. Ou simplesmente o clássico e mais comum bebé que aprende que basta chorar / manipular para ter tudo o que precisa e toda a gente à sua volta que serão a base do síndrome do narcisista.
Claro que quando somos ou temos bebés, normalmente tudo é inocentel e até “fofinho”. É normal e saudável haver tolerância e paciência a lidar com as carências todas de um bebé. Os problemas começam quando transportamos estas dinâmicas tóxicas para a fase adulta.
A Psicologia tem alguns nomes para as variantes deste fenómeno.
Por exemplo;
By Wikipédia: “A síndrome de Peter Pan descreve a incapacidade de alguém acreditar que é mais velho ou de se envolver em um comportamento geralmente associado à idade adulta. Esta síndrome afeta pessoas que não querem ou se sentem incapazes de crescer, pessoas com corpo de adulto, mas mente de criança. Não sabem ou não querem deixar de ser crianças. O termo vem do personagem infantil fictício Peter Pan, que nunca envelhece. Embora seja mais comummente atribuído aos homens, pode afetar também as mulheres.
Algumas características do transtorno são a incapacidade dos indivíduos de assumir responsabilidades, de se comprometerem ou de cumprir promessas, o cuidado excessivo com a aparência e o bem-estar pessoal e a falta de autoconfiança, mesmo que pareçam não mostrá-lo e realmente parecer exatamente o oposto. Além disso, eles estão constantemente mudando de parceiros e procurando os mais jovens.”
By Wikipédia: “Infantilismo pode ser uma psicopatologia ou uma parafilia, consistindo no desejo ou excitação do indivíduo ao ser tratado como criança ou bebê, usando fraldas e outros acessórios infantis. Também pode ser conhecido como anacletismo ou autonepiofilia. Não deve ser confundido com pedofilia, pois sua prática não envolve sexo com crianças, mas sim o desejo de ser uma. Em geral, os infantilistas têm prazer em sentir-se como bebês, usando para tal objetos deste universo, como fraldas, chupetas e biberons, entre outros. Esta experiência consiste também em alguns casos em ser tratado como bebê ou criança, envolvendo a participação de outra pessoa, que faz o papel da figura adulta.”
Ora, como mencionei acima, se a tendência em manter um padrão que funcionou relativamente bem na infância é muito grande na maioria, ele acaba por causar transtornos de personalidade e problemas relacionais na idade adulta já identificados pela Psicologia;
Por exemplo e By Wikipédia:
1- “Transtorno de personalidade anti-social.
Sintomas: Indiferença e manipulação rotineira, exploração e violação dos direitos de terceiros. Também pode ser caracterizado pela violação da lei. O diagnóstico inclui falta de empatia, manipulação, impulsividade, imprudência, irresponsabilidade, apatia e irritabilidade.
2- Transtorno de personalidade borderline.
Sintomas: dificuldade em regular as emoções, impulsividade, automutilação, sentimentos dissociativos e até episódios psicóticos. O diagnóstico inclui vazio interior, relacionamentos instáveis e desregulação emocional.
3- Transtorno de personalidade histriónica.
Sintomas: um desejo irresistível por atenção, emoções cronicamente instáveis, sensibilidade, credulidade e comportamento imprudente. O diagnóstico inclui busca de atenção e emocionalidade excessiva.
4- Transtorno de personalidade narcisista.
Sintomas: um senso exagerado de auto-importância, problemas subjacentes de auto-estima profunda, dramatismo, manipulação, inveja, arrogância, impaciência, depressão e uma necessidade excessiva de obter atenção e aprovação. O diagnóstico inclui auto grandiosidade, necessidade de admiração, falta de empatia e uma recusa em fazer terapia por acreditar que não tem problema nenhum.
Como terapeuta não é raro ser testemunha deste tipo de características. Se observarmos bem em cada uma delas, encontramos facilmente como denominador comum, a “criança” no corpo do adulto. E mais importante do que aprendermos a sermos observadores destes padrões ou até de facilmente os identificarmos nos outros, é percebermos que eles também estão presentes em nós pois afinal da infância e da morte ninguém se escapa. A questão é com que consciência e qualidade vivemos cada uma dessas experiências.
Eu acredito que tem sido a falta de desenvolvimento pessoal, a ignorância espiritual, as ilusões relacionais, a imaturidade emocional e o exagerado foco no exterior e nos outros em busca de satisfação imediata, algumas das grandes causas das nossas maiores dores; a rejeição, o abandono, a solidão, o medo, a falta de amor próprio e a incapacidade de ser um adulto maduro, responsável e feliz.
Os números os diagnósticos e das medicações psiquiátricas não enganam e estamos a pagar com a depressão, a ansiedade, o stress, o suicídio e doenças várias, a falta de terapia e com ela a consciência, o equilíbrio e a qualidade de vida.
Mas a terapia não serve apenas para observar e rotular padrões e sintomas, mas sim para compreender estes padrões de forma a sermos capazes de nos responsabilizar pela sua transformação e cura. De preferência substituindo a medicação por mudanças radicais e positivas de vida, alinhadas com o nosso propósito. Ou seja, tal como a Natureza tem o seu próprio equilíbrio quando o homem não interfere, também o ser humano traz consigo esse potencial, apenas precisa de se reconectar com ele.
A Numerologia mas principalmente a Astrologia Karmica, mostram-nos perfeitamente através da nossa data de nascimento que caminho escolhemos traçar, que lições estão envolvidas, que mudanças precisam ser feitas para que esse equilíbrio seja atingido.
Infelizmente a maioria ainda acredita que viver é ter um emprego, casamento, filhos e passar férias anuais. Mas viver é muito mais exigente, interessante e inteligente do que isso.
Viver é uma eterna dança entre os anseios da nossa criança interior, os desejos da nossa personalidade e as necessidades da alma. Obviamente não é um equilíbrio fácil, principalmente enquanto ainda acreditarmos que é no mundo exterior das coisas e pessoas que satisfazemos essas carências. Será algures, quando assim o escolhermos, numa qualquer sala de terapia, que iremos descobrir que o equilíbrio é interno, é pessoal, e que o exterior é apenas onde iremos perceber mais sobre nós e a nossa história e aprender a escolher as experiências que reflectem a nossa evolução.
Quando estudamos o nosso mapa, a sua missão, proposta e caminho de vida, iremos descobrir que tanto as linhagens, padrões e histórias dos nossos ancestrais, como os temas das heranças e memórias de vidas passadas das regressões, são todas elas peças de um enorme puzzle que é a nossa história Karmica pessoal e aos poucos, começamos a assumir a responsabilidade por cumprir esse propósito na encarnação presente.
Embora seja um processo maravilhoso e escolhido pela alma, não é um processo fácil para o nosso ego que como vimos acima, irá tentar resistir-lhe o mais que conseguir, mesmo ao preço da nossa miséria pessoal, pois sabe que algures terá que desistir de todos os seus desejos egóicos e infantis para se colocar ao serviço do processo de maturidade e evolução da alma.
Mais sobre este tema:
A praga social que é a imaturidade ou “o padrão da criança”.
https://veraluz.pt/as-dores-da-infancia-e-o-processo-de-maturidade/
Se queres perceber melhor a tua pessoa, a tua história Karmica, a tua missão, o teu momento presente, desafios e oportunidades, marca a tua consulta enviando email para veraluz@veraluz.pt ou consulta https://linktr.ee/veraluz
Bem hajas e até já!
Vera Luz