“É preciso sair da ilha, para ver a ilha” – José Saramago
É exactamente isto que acontece numa sessão de terapia espiritual. Seja uma sessão de regressão, Astrologia, um resgate da criança interior, uma viagem ao eu superior ou qualquer outra experiência que nos permita uma visão emocional e sagrada da nossa existência.
Energéticamente dá-se um afastamento do nosso ego que alimenta e se identifica com o drama e é a Alma que passa a ser a observadora. Conseguimos então a distância suficiente para nos vermos de fora e tomarmos consciência de partes de nós que de outra maneira não conhecemos.
A partir então da perspectiva do Amor, da evolução e da Lei do Karma, toda a realidade muda. Os dramas são vistos como oportunidades, as perdas como equilíbrios, os “carrascos” como dragões que farão de nós os heróis e conseguimos sentir o quanto a nossa história é afinal uma história de Amor.
Com a devida distância ou melhor, perspectiva, vemos facilmente como ela é eterna, inteligentemente preparada e tão mais sagrada do que a nossa limitada visão, memória e entendimento conseguem alcançar.
Evoluir, mudar padrões, libertar energias velhas, limpar memórias que nos condicionam acontece de duas maneiras; pela força bruta ou pela consciência e livre escolha. E tanto numa como noutra recorro a uma frase de Carlos Drummond Andrade que resume muito bem o que é comum às duas;
“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”.
Não podemos parar esse movimento que nos empurra a evoluir, mudar, libertar, limpar e que tem como único objectivo descascar as camadas que nos impedem de brilhar e expressar amor.
O ego age sobre nós como um íman que nos puxa para trás, para padrões velhos, repetitivos e zonas de conforto que não levam em conta a nossa felicidade e que embora nada tenham de confortável, são “seguras e controladas”, assim ele acredita…
Tal como o esforço que temos que fazer para sair de um poço por uma corda. Se não fizermos nada, escorregamos pela corda abaixo e não há libertação possível.
O caminho para a Luz é igual.
Tem que ser trilhado por nós, tem que envolver esforço pessoal.
De nada vale culpar, cobrar, atacar, exigir seja de quem for porque no fim, o caminho e o esforço é igual para todos. E se para uns a corda tem sulcos que ajudam a trepar e outras tem espinhos que nos fazem sangrar os dedos, são apenas consequências cósmicas de Karmas passados perdidos no tempo que se equilibram subtilmente nas pequenas “sortes e azares” das nossas vidas.
Acredito que a Psicologia pára onde a espiritualidade começa e que lindo será o dia em que ambas se integram.
A simples e mental análise psicológica dos eventos presentes e passados nem sempre permite a viagem emocional do espírito, a integração de memórias de vidas passadas ou sequer a noção de evolução de um espírito que somos e que se auto propôs aos desafios da vida presente para se experienciar e descobrir. Visão aliás confirmado por Carl Jung numa observação;
“Lidamos com uma psicologia fundada na vida real que age sobre a vida real. Nesta psicologia práctica não se trata da alma humana universal, mas de homens e mulheres individualizados, cada qual com uma variedade de problemas que os aflige directamente. Uma psicologia que satisfaz somente ao intelecto por si só nunca será capaz de abranger a totalidade da alma. Quer queiramos quer não, mais cedo ou mais tarde o factor cosmovisão terá que ser levado em conta porque a alma está em busca da sua totalidade.”
O espírito e a viagem que o espírito nos permite em estados de meditação ou terapia energética, tira-nos para fora da ilha que é afinal a limitada e distorcida visão do ego. Toda a terapia que não vá para além da mente, que não saia da noção limitada Espácio-temporal das 3 dimensões, que não fale uma linguagem sagrada baseada nas Leis Universais que ressoam com a nossa alma, corre o risco de nos prender nos esquemas maquiavélicos mentais do ego que no seu sistema de sobrevivência e superioridade, irá a todo o custo fugir da responsabilidade das consequências dos seus actos, adoptando uma atitude céptica, fechada, agressiva e vitimizadora.
O nosso bem estar geral, o estado de saúde, ou simplesmente a cura não é mais do que o equilíbrio de todos os nossos campos energéticos. Não é preciso uma análise muito profunda para observarmos de que maneira eles andam em desequilíbrio. Aliás a Iluminação ou mesmo o milagre não é mais do que a expressão exterior do equilíbrio de todos esses campos, o que obviamente não é facilmente atingido.
A mente está sobrevalorizada, as emoções vivem em segundo plano quando não andam anuladas, o corpo físico é apenas um veiculo para o ego satisfazer os seus caprichos e o corpo espiritual nem sequer é levado em conta pelos que andam adormecidos.
Os desequilíbrios a nível mental devem-se ao excesso de informação, à falta de silêncio e de ausência de informação que fale uma linguagem superior. Diariamente somos bombardeados com noticias e programas de televisão que nos fazem acreditar que o mundo é um lugar caótico, difícil e essencialmente mantido em ordem ou equilíbrio por regras, tratados, organizações, dinheiro e poder sem qualquer noção de que estamos deslumbrados e continuamente a analisar o movimento dos ponteiros de um relógio completamente alheados de que ele tem uma máquina por trás. Estamos cheios de conhecimento e vazios de sabedoria.
O corpo emocional está bloqueado de dores, ressentimentos, revolta e medo resultantes de experiências vividas e acumuladas no tempo e que voltam sem que tenhamos a mínima noção de que vêm a nós como elásticos para serem ultrapassadas e superadas e não para nos vitimizarmos mais com elas. Vivemos com um sentimento de culpa/castigo/vitimização sem sabermos que um dos grandes segredos da abundância passa pela aprendizagem e resgate do amor próprio.
Da mesma maneira bloqueado, está o corpo físico que graças aos avanços tecnológicos nunca esteve tão parado como nos dias de hoje. Tornou-se um depósito das nossas carências para onde despejamos cigarros, gordura, álcool, drogas, açúcar, químicos e tantas outras que são apenas a materialização do estado em que os outros corpos se encontram.
O nosso corpo espiritual esteve durante séculos abafado por conceitos religiosos e adulterado por dogmas que nada tinham a ver com a sua verdadeira natureza de amor e luz. Embora estejamos a viver o tempo da informação e aos poucos a verdade vá aparecendo, até hoje a maioria está ainda desconectada desta energia e das Leis Universais. Ainda tantos estão presos ao Deus exterior, ao Deus religioso, ao Deus castigador sem saberem que esse medo para alem de estar a alimentar o ego, afasta-nos da emoção do amor.
Não terá sido a frustração causada pelo conceito de um Deus julgador, punidor, caprichoso e exigente que nos “inspirou” a fazermos o mesmo com quem nos rodeia?
(…) disse Deus: “ Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Génesis 1:26) (…)
Facto é que quem já despertou e abraçou uma nova maneira de viver, regida por Leis Universais e uma visão espiritual da vida, demonstra uma atitude, perante si próprio, os eventos, as emoções e a vida em geral, mais tolerante, mais amorosa, mais responsável e mais feliz.
Com os avanços da tecnologia e da ciência ao serviço da saúde e com o investimento que estamos hoje a fazer no campo da espiritualidade e da energia, estamos cada vez mais perto do conceito Holístico da totalidade. Considerar o todo levando em consideração as partes e suas inter-relações.
Cada um de nós é responsável por cada um desses campos energéticos, pelo tempo, pela qualidade, pelo alimento, atenção, amor e carinho que despendemos com cada um deles. Cabe-nos a nós saber dizer que sim e que não ao que é melhor ou não em cada um eles. Seja o que pomos na cabeça, no prato, no espírito ou no coração.
Terapia então não é mais do que a busca de experiências que nos ajudem a encontrar esse equilíbrio.
O trabalho do terapeuta não é o de curar seja o que for ou quem for. Foram as nossas atitudes passadas que nos levaram ao desequilíbrio, teremos que ser nós a recuperar o equilíbrio de novo.
Não é essa afinal a melhor designação de responsabilidade?
Não é essa afinal a base com que funciona a Lei do Karma?
O trabalho do terapeuta é apenas o de lembrar o que cada um esqueceu. É lembrar que ele é responsável pela sua felicidade, pelas suas escolhas e pela qualidade da sua energia, de cada um dos seus campo energéticos e vida no geral.
Terapia por isso não é mais do devolver cada um ao seu trilho, relembrar a força que temos e de reforçar a crença de que se não formos nós a conseguir, ninguém o poderá fazer por nós e desistir, não é uma opção.
Depois de séculos de vitimização, projecção das nossas dores nos outros, de cobrança, expectativa e exigência de que alguém, em algum dia, terá que fazer algo que me irá fazer feliz e enquanto isso não acontecer não seremos felizes, iremos aos poucos voltar a onde nunca deveríamos ter saído, a nós próprios!
A liberdade que tanto ansiamos tem o preço da responsabilidade e tal como podemos observar no mundo, ainda não conquistámos nem uma, nem outra.
Mais ainda do que nos ajudar a resgatar a força para continuarmos a nossa caminhada, o verdadeiro trabalho do terapeuta é contribuir para o equilíbrio geral trabalhando com cada uma das partes.
Não há duvida que todos os nossos corpos estão em desequilíbrio nos dias que correm, mas também é óbvio que o campo Espiritual esteve seco durante séculos e neste momento da história precisamos de resgatar essa sabedoria para podermos seguir em frente num novo rumo.
Depois de séculos submissos a religiões a viver “verdades” exteriores, distorcidas pelo poder que nem sempre conferiam connosco, chegou o tempo de voltar a casa, ao nosso Templo Interior e ao nosso sentir.
Poucas coisas tranquilizam mais do que a relembrança de quem somos e o quanto a experiência humana é inteligente e sagrada. Recordar as perdidas Leis Universais é falar a linguagem da Alma, é aproveitar a experiência humana para uma enorme transformação prevista antes do nosso nascimento e assim dar um sentido e propósito a tudo o que passamos.
Só assim podemos assumir a responsabilidade pela nossa felicidade, pelo nosso equilíbrio e pela nossa cura.
E não há nada mais importante do que isso.
Como dizem as palavras que nos legou o pai da medicina;
“É mais importante saber que tipo de pessoa tem uma doença do que saber que tipo de doença a pessoa tem”. Hipócrates
E tu? Como tens andado a tratar os teus 4 corpos?
Bem hajam
Vera Luz
Imagem de Josh Clifford por Pixabay