A crença na escassez é algo que vive um pouco em todos nós e quanto mais inconsciente estiver, mais condiciona os nossos pensamentos e as nossas atitudes, mantendo-nos numa espiral permanente de onde apenas escaparemos com muita consciência, escolha e disciplina.
Num tempo em que cada vez se fala mais em abundância, evolução, liberdade e amor incondicional, há que tomar consciência dos obstáculos, principalmente internos para acedermos a essas energias.
Todo o Universo, a Terra incluída claro, é um espaço abundante, rico, belo e extraordinário.
Seja pela majestosa diversidade e beleza da natureza, seja pelo impressionante funcionamento do corpo humano, seja pelo mistério científico e sagrado que é o Cosmos, sua origem e funcionamento, principalmente no que toca à nossa existência. Seja quem for ou o que for que tenha criado toda a realidade, era dotado de uma fascinante mistura entre a precisão matemática e o dom artístico capaz de impressionar o nosso hemisfério esquerdo e direito com a sua obra de arte.
Quando contemplamos uma noite estrelada e consideramos por uns momentos a força invisível, a inteligência superior que criou tanta diversidade, beleza e magia, poucos são os que não se deslumbram.
Perante esse misterioso poder maior, o nosso pobre ego reduz-se à sua pequenez dando lugar a uma alma desperta bem consciente da sua identidade cósmica e eterna.
Nós somos parte do Todo, logo já somos abundantes por natureza. Ou seja, a abundância, a vida, a luz, o amor, a liberdade, a magia, a ordem, o equilíbrio, a beleza não é algo que tenhamos que procurar mas algo que já somos e que faz parte da nossa essência.
Cabe-nos a nós a responsabilidade e livre escolha de nos conectarmos com essa fonte interna de luz que quando consciente da sua abundância, se preenche autonomamente. Quando vivemos ligados à nossa fonte interior de abundância, amor, valor e luz existe apenas o movimento de dentro para fora num movimento eterno de plenitude, expansão e partilha.
Não é difícil de perceber então que se todo o ser humano se conseguisse activar a sua fonte interna de energia de amor, a Terra seria um paraíso, certo?
Se estivéssemos conscientes das nossas riquíssimas fontes interiores, viveríamos sempre preenchidos pela nossa própria luz. Haveria apenas o sentimento de abundância pois essa é de facto a nossa essência.
Sem a mão do homem, o Universo, em particular a Natureza que podemos observar, tem leis que lhe permitem a sua sobrevivência, manutenção e equilíbrio assim como o de todos os seres vivos que a habitam. Nós seres humanos incluídos.
Então se a Natureza sozinha consegue o equilíbrio e cada um de nós carrega na sua essência luz e amor, porque o mundo não é um paraíso?
O que aconteceu afinal para chegarmos a tanta violência?
Porque passámos da abundância para a escassez?
Se a Natureza já mantêm o seu equilíbrio há 4540 milhões de anos e se o ser humano já cá caminha há 200 mil anos porque estamos mais carentes, desamados, desorientados e doentes do que nunca?
Porque nas 3 dimensões somos confrontados com a dualidade onde nos é dado a escolher entre o lado positivo e negativo das energias. Em dimensões elevadas para além da realidade material, ambos os polos coexistem em equilíbrio. Aqui no mundo físico, condicionado pelos conceitos de espaço e tempo, o espírito propôs-se escolher experienciar um polo de cada vez. O medo ou/e o amor, a tristeza ou/e a alegria, a coragem ou/e a insegurança, a abundância ou/e a escassez…
Nós não somos uma coisa OU outra.
Somos ambas a serem lentamente experimentadas uma de cada vez conforme o nosso livre arbítrio.
Practicamente durante os últimos 2000 anos, e até mais para trás em muitas culturas do mundo, o ser humano passou a acreditar mais na escassez do que na abundância. Cada vez mais identificado com a sua identidade terrena e com o seu ego ganancioso, com a ilusão da separação e em permanente estado de comparação exterior, o homem passou a alimentar e a identificar-se mais com o que não tem do que com aquilo que tem, e com o que não é em vez de se manter fiel ao que de facto é.
As tentações do mundo, as opiniões dos outros, sistemas de crenças rígidos impostos pelo medo, manipulação e culpa levaram o ser humano à desconexão interior da sua fonte de energia e poder pessoal. Aos poucos fomos permitindo que o mundo material se sobrepusesse ao mundo espiritual e os cinco sentidos e todas as distrações exteriores sobrepuseram-se à nossa intuição interior. Da mesma maneira que permitimos, mesmo que inconscientemente que a nossa fonte interior se apagasse, temos que ser nós, no nosso interior a religá-la de novo. Enquanto ela não for reacesa, as consequências de as termos apagado irão fazer-nos acreditar na escassez e a profecia auto-realiza-se por si.
Assim nasce o sentimento de escassez, como resultado de um poderoso cocktail entre um sentimento doloroso de vazio de desconexão com a fonte, a ideia distorcida de que não temos ou somos o que precisamos e uma crença falsa de que o que precisamos terá que vir de fora.
A maior parte vive em energia baixas, acreditando nas suas secretas profundezas que nada valem, que não são capazes de nada, que não são merecedores da abundância, que nada de bom lhes acontece, que tudo é difícil ou que precisamos de A ou B para serem felizes. A partir do momento em que permitimos que a nossa energia baixe, em que o exterior é mais poderoso que o interior, o movimento energético passa a acontecer de fora para dentro. Ou seja, se eu não tenho dentro, tenho que ir buscar fora.. E assim a crença na escassez passa a dominar a nossa energia gerando comportamentos de carência e de ‘desempoderamento’.
Cada vez mais inconscientes da fonte maravilhosa e poderosa que carregamos dentro de nós, toda a nossa rotina, escolhas, anseios, ações e respostas ao mundo parte assim de um sentimento de vazio que precisa ser preenchido, onde por uma questão de sobrevivência, tudo iremos fazer lá fora no mundo para conseguir alimento. Independentemente se é comida, atenção, cigarros, amor, álcool, reconhecimento, segurança, poder, dinheiro, etc. ou seja, a lista é tão infinita como as possibilidades de alimento.
Obviamente que em prol do nosso equilíbrio interno e de nos devolver o acesso à nossa fonte de poder interior, todos os nossos esquemas irão cair por terra nas teias Karmicas do tempo. Pior ainda do que vermos todas as tentativas de alimento externo não devolverem nada de qualidade, serão as questões Karmicas que teremos que enfrentar para corrigir as manipulações, fraudes, mentiras, violência e esquemas vários que usámos para conseguir ou manter esses pseudo-alimentos sem qualidade.
O mundo no estado em que está, com níveis de fome obsoletos, o dinheiro mal usado e distribuído, a solidão, o medo, as doenças, as dependências várias, a violência, tudo é uma consequência global de nos termos perdido internamente dessa fonte maravilhosa de amor incondicional. Todos andamos em busca algo, quais sanguessugas que precisam de um qualquer sangue para sobreviverem.
A primeira coisa que temos a fazer se queremos então inverter o processo e reconectar com a nossa fonte interior é antes de mais abandonar qualquer crença limitadora interna que não esteja alinhada com a nossa abundância e natureza espiritual. Nós somos Luz. Somos Deus individualizado experienciando as suas infinitas facetas através de nós. Temos em nós uma fonte inesgotável de amor. Não há nada que procurar lá fora, tudo está dentro de nós.
Precisamos de voltar a acreditar que essa fonte está dentro de nós mesmo que de momento não esteja no seu melhor “funcionamento” ou que tenha até hoje funcionado apenas para os outros.
De seguida precisamos identificar onde, como, com quem e onde é que na nossa vida pessoal, familiar, profissional e social o movimento energético ainda funciona de fora para dentro. Ou seja,onde, como, com quem e onde é que ainda esperamos algo ao invés de estarmos focados no que de melhor podemos partilhar. Abandonar estes velhos apegos é essencial para que a autonomia se restabeleça e a energia reaprenda a jorrar de dentro para fora.
Durante meses, anos, ou até vidas todo o nosso funcionamento impelia-nos a buscar alimento fora tivesse qualidade ou não. Um pouco como o drogado que simplesmente precisa de droga para se pacificar e sai sob impulso em busca da mesma. Confundimos o alimento físico que o nosso corpo precisa com alimento emocional e passámos a buscar tudo lá fora. O relacionamento sem qualidade, o bolinho na pastelaria, o cigarro à porta da rua, a dose de heroína diária, álcool, açúcar, dinheiro, não interessa que aspecto e consistência tem. Vem de fora.
Se queremos inverter o processo temos que questionar toda a nossa postura, rotinas, vícios e reaprender a alinharmo-nos com o que afinal faz disparar e reacender a nossa fonte interna; ambientes tranquilos, pessoas positivas, disciplina com o corpo, saber por limites aos outros e escolher com qualidade, desde à simples maçã, aos relacionamentos, aos pensamentos, aos canais de televisão, às amizades, e a tudo o que nos rodeia.
Viver em abundância é então focar na ordem e num Universo ordenado por trás do caos, é confiar que toda a experiência terrena tem uma mão amorosa por trás que conspira para o nosso equilíbrio interior. Viver em abundância é pacificarmo-nos com o presente, não sofrermos pelo que não temos mas abençoarmos e validarmos o que está na nossa realidade como essencial ao nosso processo de evolução. É viver com a certeza de que o que é para nós a nós chegará e o que não é não virá. Viver em abundância é saber que já temos dentro de nós uma chispa divina que vem reaprender a ser luz perante a sombra. Viver em abundância é validar as nossas capacidades, talentos e diferenças e atrevermo-nos a colocá-las ao serviço da nossa evolução pessoal e do mundo. Viver em abundância é reacendermos a nossa fonte e preservarmos as suas águas enquanto inspiramos outros à nossa volta para que reacendam as suas também. Viver em abundância é viver sem apegos a nada pois confiamos que tudo vai e vem conforme as nossas necessidades. A crença na abundância lembra-nos que tudo está certo e perfeito como está, mesmo que a nossa mente limitada não o consiga perceber no momento..
Que cada um se possa assim reconectar com a sua abundância interior. Focar apenas no que tem de melhor para possa partilhar esse melhor consigo e com o mundo será o que em última análise irá inverter o paradigma ilusório da escassez.
Bem Hajam!
Vera Luz
1 comentário
Sensibilidade e profundidade definem seu texto… Gratidão imensa por partilhar. Muitos ensinamentos e convites à meditar sobre nosso ego limitado e escasso diante de nossa grandiosidade e do Universo. Parabéns!!! Me tornei sua fã. Abraço fraterno. Cris Raga