Ainda muitos confundem as palavras dor e sofrimento sem perceber a diferença entre as duas.
A nossa essência dual sugere que manter o equilíbrio das nossas duas partes, seja ela física, emocional, mental e espiritual, proporciona naturalmente o estado de saúde. Esse estado de equilíbrio é uma responsabilidade nossa. Para que o possamos manter equilibrado e para que possamos fazer as devidas correções, tem de haver uma comunicação interna. A dor e o bem-estar ou prazer ajudam-nos assim a perceber como equilibrar e corrigir esses pratos da balança interna.
Antes ainda de chegarmos à Terra e de termos um corpo físico, já somos seres espirituais numa imensa viagem de evolução.
Embora haja mais, podemos dividir a nossa energia em 4 campos básicos; físico, mental, emocional e espiritual. Ou seja, todos são energia em vibrações diferentes e todos estão em permanente interação uns com os outros. Porque uns dependem dos outros, quando qualquer um deles está em desequilíbrio, envia sinais à nossa consciência para que possamos fazer os respectivos ajustes.
Dor é o primeiro impacto que sentimos de desconforto interno. É o aviso óbvio de que há algo a que dar atenção. É a maneira como a nossa energia faz o seu chamamento para que demos atenção a uma determinada “parte” do nosso ser. Uma espécie de alarme cósmico que pede a nossa atenção para uma determinada área. A dor, seja ela física, emocional ou psicológica, seja ela criada pelo corpo ou materializada por acidente, é um sinal de desequilíbrio energético, que só poderá ser corrigido e ajudado a retornar ao seu centro, se formos chamados à atenção do que representa. É para isso que a dor serve. Para percebermos o que temos de fazer ou aprender através dela. Para que saibamos onde dar atenção, seja directamente seja através da simbologia do que ela representa no corpo energético. Sem a dor, não saberíamos o estado de desequilíbrio em que estamos. Não teríamos a oportunidade de atender ao desequilíbrio e muito menos de fazer a respectiva correção. Não seríamos capazes de usá-la para fazer as essenciais alquimias e processos de transformação internos, essenciais à nossa viagem de evolução espiritual.
O sofrimento é, pelo contrário, a nossa resistência à dor. É a incapacidade de reconhecermos a dor como convite à mudança. É o estender da dor desnecessariamente pois quando feita a correção interna ela deixa de se fazer sentir. É a desresponsabilização pelo próprio processo de co-criação e cura do próprio desequilíbrio. Quando ainda não conhecemos as leis universais, vivemos cegos para a magia da vida. Não percebemos os movimentos karmicos que levam a cada um retornos das suas escolhas passadas. Ainda não sabemos identificar as vibrações das pessoas que nos rodeiam como presentes dentro de nós próprios. Ainda não aprendemos a percepcionar o fenómeno dos espelhos que devolve a cada um reflexos do que em si vive inconsciente. Ainda estamos inconscientes das exigências que a nossa evolução espiritual nos devolve. O sofrimento é então a consequência da ignorância que por sua vez gera raiva, que por sua vez gera julgamento, que por sua vez causa solidão, que por sua vez causa rejeição, que por sua vez alimenta a vitimização. O sofrimento é a consequência da falta de amor próprio que, incapaz de se auto-nutrir, a todos cobra, exige e violenta. O sofrimento, a vitimização, o queixume e a lamentação são sinais externos de inconsciência interna que só através da exaustão irão procurar ajuda.
Tratada com o devido respeito, analisada em todas as vertentes possíveis, tanto no trato directo como na representação simbólica, a dor é normalmente a escada para um patamar melhor, uma proposta de melhoramento e de retorno ao equilíbrio. Desta perspectiva, o sofrimento é um desperdício de energia. Consciente ou inconsciente é uma escolha visto termos como alternativa aceitar a mensagem da dor e fazer o respetivo ajuste de maneira à cura acontecer.
A maravilhosa Louise Hay foi uma pioneira na tentativa de encontrar significado para a dor. Foi um exemplo quando através do ajuste interno, curou o seu cancro e a dor que ainda estava escondida dentro de si. Martin Brofman, Lise Bourbeau deram-nos também livros maravilhosos e inspiradores e embora não seja a única, a terapeuta Cristina Cairo aprofundou esses ensinamentos dando-nos pistas ainda mais interessantes da representação interna do que chamamos “dor” e do poder de cura (equilíbrio e consciência) que temos em nós.
Termino com a famosa frase que condensa toda esta mensagem;
“A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”
Carlos Drummond de Andrade
Que todos possamos transcender a limitada mente racional e aceder ao patamar da sabedoria onde seremos capazes de identificar e intuir os nossos desequilíbrios e fazer os respetivos ajustes a favor da nossa saúde interna.
Bem hajam!
Vera Luz
Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay