Os principios da Consciência Sistémica de Bert Hellinger

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  • Os principios da Consciencia Sistémica de Bert Hellinger

  • Os pilares da Consciência Sistémica

  • As 3 Leis do Amor

  • Tomar Mãe e Pai

  • As Ordens da Ajuda

Princípios da Consciência Sistémica

Bert Hellinger, fundador das Constelações Familiares, veio acrescentar o trabalho das suas observações da influência do mundo energético na nossa vida, ao mundo da cura.
Embora a Astrologia e a Numerologia consigam “ler” as simbologias e mensagem da nossa data de nascimento, uma meditação ou regressão possa ser sentida pelo próprio, uma canalização mediúnica trazer mensagens cheias de veracidade, a verdade é que todas elas estão condicionadas pelo nosso filtro ou pelo filtro do terapeuta.

Hellinger foi mais longe e percebeu que o Campo de energia que nos rodeia é inteligente, interactivo e abrangente, é a água cósmica que a tudo deu vida, que tudo sustenta e onde está guardada a memória pessoal, familiar e coletiva, tanto a sombra como a luz de toda a experiência de vida.

Ou seja, todos fazemos parte dessa rede energética, quer tenhamos consciência disso ou não, e Hellinger percebeu, testou e ensinou que fazer parte desse campo implica responsabilidade e respeito pela forma como esse Campo funciona e se sustenta. O não conhecimento e respeito por essas leis, é a causa da dor, do sofrimento e da perda.

A ideia de Campo vem dos estudos Rupert Sheldrake na sua teoria de campos morfogenéticos. Para este autor e Biologista,  a rede energética em que vivemos, tem uma estrutura própria, padrões que se repetem, capaz de influenciar as nossas escolhas e o nosso comportamento. Essa energia inteligente tem como função ativar o equilíbrio do micro e do macro de forma a manter a Ordem do Campo.
Resumindo, se todos fazemos parte, contribuímos e impactamos com a nossa presença assim como também somos influenciados por esse campo, é importante então a manutenção do campo, descobrir formas de respeitar as leis desse campo, dar a melhor contribuição para esse campo e ajudar a limpar a toxidade do campo, ajudando a curar todos os elementos que ainda estão desconectados das leis.

Consideremos então o Campo pessoal; o nosso corpo por exemplo, o campo familiar; o nosso clã que vai muito além das pessoas que conhecemos na família, e o campo coletivo; todos os seres de todos os reinos.

Bert Hellinger observou as 3 Leis do Amor e as 5 Ordens da Ajuda percebeu que sempre que esses princípios não são respeitados, há desequilíbrios, dor e sofrimento.
Logo, conhecer e respeitar as leis, permite que a cura aconteça.

Vamos então ver um pouco sobre cada uma:

Pilares da Consciência Sistémica

Consciência e responsabilidade pessoal sobre a própria existência, a escolha do plano de vida, da família da vida presente e todas as dinâmicas atraídas pela vida fora.
Consciência de que a vida presente e o nosso livre arbítrio são influenciados pelas vidas passadas e pela ancestralidade criando emaranhamentos tóxicos aos quais ficamos aprisionados e enquanto não houver consciência, limpeza e amor, não há liberdade e leveza.
Respeito pelas Leis do Amor e Ordens da Ajuda

As 3 Leis do Amor:

– A Lei do Pertencimento
“Pertencer à nossa família é nossa necessidade básica. Esse vínculo é o nosso desejo mais profundo. A necessidade de pertencer a ela vai além até mesmo da nossa necessidade de sobreviver. Isso significa que estamos dispostos a sacrificar e entregar a nossa vida pela necessidade de pertencer a ela.” Bert Hellinger
Pertencer vai muito além do que o nosso ego gosta, quer ou aceita. É um vínculo sagrado que vai para além da morte. Pela Lei do Pertencimento, todos pertencem, independentemente de atitudes, julgamentos ou comportamentos. Tal como todas as células do nosso corpo, todas têm uma função, um papel, um lugar, assim são os elementos da família pessoal e também do coletivo. O objetivo é perceber e descobrir qual o papel de cada um. Tanto o que inspira como o que envergonha. A Lei do Pertencimento não implica aceitar os comportamentos, carácter ou desculpar atitudes negativas de certos elementos da família, pois essas ficam karmicamente com cada um. A Lei diz apenas que todos pertencem, que assim como os fáceis, também os “difíceis” têm um lugar.
A exclusão, quantas vezes ingénua e inocente, com a simples intenção de manter o núcleo limpo e saudável, vai contra esta Lei e origina problemas até geracionais pois por amor à família, alguém irá representar o ser excluído, como por exemplo um filho. Como também já nos tinha ensinado Carl Jung, o que excluímos no outro é não raras vezes, uma sombra reprimida dentro de nós e dessa perspectiva, o outro é essencial para que consigamos ganhar consciência do trabalho de cura que temos que fazer. Hellinger também defendeu que o excluído por doença, vícios, comportamentos e até deficiência, aceitou tomar para si as dores do clã, propondo-se por amor, a representá-las e a tentar curá-las pelo bem, pelo futuro e evolução do clã.

– A Lei do Equilíbrio
“O que dá e o que recebe conhecem a paz se o dar e o receber forem equivalentes. Nós nos sentimos credores quando damos e devedores quando recebemos. O equilíbrio entre crédito e débito é fundamental nos relacionamentos.” Bert Hellinger
Também representada pela Lei do equilíbrio nas Leis Herméticas e base da filosofia Taoísta do Yin e Yang, o equilíbrio é a forma como a balança cósmica mantém a vida. E por mais óbvia que seja e a condição de todas as relações saudáveis, a verdade é que estamos longe de respeitar esta lei ou dando demais e não sabendo receber ou vivendo na vitimização, carência e exigência de só quem sabe receber e nada sabe sobre dar. Reciprocidade é a palavra chave aqui e implica que cada um tenha desenvolvido em si tanto a humildade de dar o que o outro merece como o amor próprio de saber receber ou pedir o que merece.
No entanto, enquanto que a lei vale para relações entre adultos, e quando não respeitada a Lei, a relação não prospera e corre o risco de intoxicar e terminar, ela difere entre pais e filhos. Bellinger diz que os filhos jamais poderão dar de volta a vida que receberam dos pais e por isso a forma dos filhos devolverem tamanha oferta, a sua vida e com ela a oportunidade de evolução, é levarem a sua vida para a frente e libertarem-se dos pais de forma adulta, grata e responsável. Quando colocamos os filhos no lugar de “amigos” ou até lhes cedemos o poder de decidir do adulto, estamos a contrariar as Leis e a gerar problemas para o clã.

– A Lei da Ordem ou Hierarquia
“O ser é estruturado pelo tempo. O ser é definido pelo tempo e através dele, recebe o seu posicionamento. Quem entrou primeiro em um sistema tem precedência sobre quem entrou depois. Sempre que acontece um desenvolvimento trágico em uma família, uma pessoa violou a hierarquia do tempo.” Bert Hellinger
Mais do que ser uma Lei é um facto, apoiado até por lendas antigas tais como; “a idade é um posto”. Quem vem primeiro cuida de quem vem depois. A hierarquia do tempo assim define que quem chega primeiro é o mais velho, é o grande, é o adulto perante o que chegou depois, que é a criança ou o jovem. A criança é trazida à vida e cuidada e guiada pelo adulto até que se torne adulta também e passe a guiar a sua própria vida. Até lá deve respeito e obediência a quem fez por ela e que ela nunca fez por ser criança. Quando os filhos desrespeitam esta hierarquia, desrespeitam a ordem do Equilíbrio e quantas vezes até a do pertencimento, são inevitáveis os problemas e conflitos.

Tomar o Pai e a Mãe:

Muito importante no trabalho de Bert Hellinger é a pacificação ou tomada do pai e da mãe, algo que no mundo da terapia e na maioria das pessoas, gera todo o tipo de dor e resistências,  precisamente pelas dores da infância que vivemos, originadas pelas mães e pais difíceis que tivemos, e que foram os “causadores” de algumas das maiores dores do ser humano.

É importante compreender que não se trata literalmente de aceitar pai e mãe mas muito mais de reconectarmos com as energias cósmicas feminina e masculina e como as vivemos dentro de nós.

A Mãe e o Pai são apenas em quem vamos projetar o nosso dilema interior com cada uma delas. Algures na viagem terapêutica, somos convidados a aceitar que a mãe e o pai nunca são o que nós gostaríamos mas sim os espelhos da nossa relação interna com cada uma dessas energias.

Idealmente, a Energia Feminina da mãe seria maternal, acolhedora, protetora, cuidadora, colo de segurança, alimento e amor incondicional. Depois de passada a fase de criança, o adulto saudável em nós irá aprender a responsabilizar-se por tomar o lugar da mãe e aprender a cuidar amorosa e emocionalmente de si mesma.


Idealmente, a Energia Masculina do pai seria aventureira, activa, corajosa, optimista, conquistadora e cheia de iniciativa. Depois da fase de criança em que o pai incentiva e leva para o mundo, o adulto saudável em nós irá aprender a agir corajosamente a percorrer o seu caminho, tomando o lugar do pai.


Os problemas começam quando nem o pai nem a mãe representaram bem os seus papéis.

Primeiro é importante lembrar que fomos nós próprios que os escolhemos, não porque “podiam ou deviam” ser perfeitos mas sim porque JÁ SÃO PERFEITOS ao devolver ou espelhar o estado real interno de relação que temos com cada uma destas energias.

Ou seja, o que vemos de negativo no pai mostra a relação que temos com a ação e a coragem e o que vemos de negativo na mãe mostra a relação que temos com o amor e a segurança.

Resumindo, atitudes de exigência, expectativas idealistas, cobrança, culpa e qualquer emoção negativa em relação aos pais, está sempre ligada a sensação de estagnação e bloqueio de prosperidade. Ou seja, significa que ainda estamos no lugar da criança.

Atitude de gratidão e alegria pela vida, reconhecimento do papel dos pais, de responsabilidade pela escolha dos mesmos e de orientar as suas escolhas para a sua vida, independência e felicidade, significa que já estamos no lugar do adulto.

Tomar os pais significa então perceber que os escolhemos por razões que levarão o seu tempo a entender, mas principalmente, significa agradecer o bem mais valioso que é a Vida e nisso eles foram perfeitos e bem sucedidos. Se foram bons ou maus já é Karma pessoal e algures iremos entender o porquê.

Dessa maneira precisamos então e apenas agradecer o bem da vida, deixar com eles todas as suas escolhas, ações, decisões e seguirmos livres e leves, com o que é nosso, para a nossa vida.   

As Ordens da Ajuda:

– 1ª Equilíbrio no dar e receber
Apenas dar o que tem e receber apenas o que precisa. Quem dá demais (o mártir) fica credor e quem recebe apenas (o bebé) fica devedor, estados não desejáveis ou saudáveis nem a nível pessoal e muito menos relacional.

– 2ª Respeito pelo destino do outro
Intervir apenas em circunstâncias que permitam e sejam ecológicas para o próprio e para o sistema. Quantas vezes a perda tem uma intenção positiva de libertar a pessoa de algo ou alguém para que uma nova realidade seja possível. Ter atenção a pedidos excessivos da parte do outro ou pelo contrário, invasão excessiva da nossa parte no problema do outro.

– 3ª Manter relacionamento entre iguais
Nós não somos pais, bombeiros nem salvadores dos outros. Apenas adultos a ajudar adultos quando o próprio se sente incapaz, na medida do possível e de preferência apenas no empoderamento pessoal e não a nível prático. Ou seja, dar a cana e não peixe. Cada um deve sentir que tem capacidade de viver a sua própria história, de resolver os seus próprios problemas, de superar os seus desafios e de conquistar o seu estado de harmonia e felicidade pessoal.

– 4ª Empatia sistémica
Ver não apenas o outro mas observar todo o seu sistema, em especial o familiar, os padrões e o seu papel e responsabilidade como pertencente a esse sistema. Sem esta visão global sistémica, pode haver a tentação de se desresponsabilizar, de culpar, de projetar, de se vitimizar e manter no lugar de excluída ou não pertencente, da criança imatura e irresponsável.

– 5ª Amar o outro como ele é
Respeitar as diferenças de circunstâncias e desafios do outro sem julgamento. Procurar desenvolver a atitude do terapeuta, do entendimento, da empatia pelas dores do seu percurso

 

“Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda de outros.
Só assim podemos nos desenvolver. Ao mesmo tempo, precisamos também ajudar outros”. Bert Hellinger – Ordens da Ajuda

 

Vera Luz

Imagem de WOKANDAPIX por Pixabay
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