É preciso abir mão do velho para receber o novo

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São variadíssimas as maneiras como poderíamos agrupar os seres humanos tanto no dia de hoje como ao longo da história. Hoje em dia, dois imensos e quase invisíveis movimentos começam a destacar-se;
Os identificados com o Espírito e os identificados com a Persona. Os que vivem de dentro para fora e os que vivem de fora para dentro e que se distinguem por;

– Todos aqueles que estão a investir toda a energia que têm a manter o que já têm, completamente identificados com a sua Persona ou ego e as suas zonas de conforto vivendo de desculpas e justificações para esconder as suas frustrações e a abafar as suas necessidades essenciais de aventura, liberdade, amor próprio, valorização pessoal e coragem em prol de uma pseudo-perfeita imagem social encaixada numa qualquer zona de conforto. Para manter esta necessidade e imagem de aprovação exterior e social, põem em causa a sua essência e a sua verdade acomodando-se a vidas medíocres comparadas com o potencial que carregam dentro.

Como a sua prioridade é manter a imagem e a segurança exterior, na maior parte das vezes ficam presas a realidades, estilos de vida e pessoas que servem a agenda social mas não servem a agenda espiritual criando assim lenta e invisivelmente tensões de culpa, revolta e frustração.

Estas pessoas precisam de estar sempre alerta, sempre a identificar onde, como e de que maneira podem continuar a manter a sua ilusão de felicidade tanto exterior na tal imagem socialmente aceite como interiormente negando toda e qualquer emoção mais densa ou “feia” que não se ajuste com a perfeição da máscara que queremos manter.

Claro que mais cedo ou mais tarde a frustração virá apresentar a sua conta.

O custo emocional de manter um estilo de vida que serve a todos menos a nós próprios, à nossa alma, aos nossos talentos e felicidade pessoal é elevadíssimo!

De tanto recusar ouvir a sua desesperada e desprezada voz interior e rejeitar os infinitos convites de libertação enviados pela vida das mais variadas maneiras, as consequências irão começar a surgir;

* os esquemas de compensação das frustrações irão surgir através de mecânicas que nos fazem acreditar que não podemos mudar, que não conseguimos fazer nada ou que os outros não nos permitem. Por ex, o apego a pessoas, ideias, crenças irá manter-nos ocupados ou melhor dizendo, distraídos do drama que está a acontecer dentro de nós justificando a nossa “impossibilidade” de mudar.

* as projecções das nossas sombras reprimidas nos outros irão disparar. Ou seja, para mantermos a máscara perfeita não nos permitimos sentir a tristeza, a revolta, o medo, a culpa e a frustração de estarmos a viver uma vida bastante aquém da que gostaríamos de estar a viver. Por ex, a raiva é importantíssima quando bem canalizada pois é ela que nos permite virar a mesa quando já não aguentamos mais, é essencial para resgatarmos o nosso poder interior e transformá-la em coragem de sair da dita zona de conforto, é poderosa quando um deprimido se apercebe que está a ser engolido por energias densas e cabe apenas a si contrariá-las. Infelizmente a raiva ainda é julgada como uma emoção “feia” e como tal deixa de servir estes e muitos outros propósitos positivos.

* o corpo irá começar a dar sinais de rotura, tristeza e de desgaste, muitas vezes literais. Ou seja a correspondência entre o sintoma físico e o significado emocional é flagrante. Por ex, não conseguir andar = espírito não consegue mais caminhar nos velhos padrões. Ansiedade, excesso de crítica = Tristeza e raiva abafadas.

* a visão de vida é de tal maneira deprimente e as emoções abafadas de tal maneira reprimidas que todo o discurso irá servir para justificar a necessidade de ainda estarmos ali e de mantermos a zona de conforto acreditando que somos indispensáveis e que todos e tudo fora dela é violento e mau.

Viver nesta energia é alimentar cada vez mais a persona em detrimento do espírito que se faz ouvir cada vez menos. É viver para alimentar a capa que nos separa criando barreiras cada vez mais grossas entre nós e o mundo em vez de saudavelmente descobrirmos os que nos une como seres humanos. É o movimento implodido, contractivo, fechado, resistente e defensivo que só depois de muita dor e frustração de viver na sua própria prisão irá colocá-la em causa.

Embora a vida nos tenha dado a liberdade de podermos experimentar todos estes patamares e sensações diferentes, não nos podemos esquecer que estamos dentro de uma imensa espiral cósmica evolutiva e assim mais cedo ou mais tarde, toda a nossa realidade será arrastada para essa evolução.

Depois temos;

– Todos aqueles que já se identificaram ou melhor dizendo, religaram com o Espírito. Ou seja, que cresceram para além da Persona e estão já alinhados com a sua história espiritual. Todos os que já foram apanhados por um qualquer tornado e que em vez de resistirem se permitiram ir com a corrente sendo assim levados a novas e maravilhosas praias. É muitas vezes também esse tornado que desaba os muros que nos dividem de novas pessoas e experiências e que nos permitem sentir o que seria impossível dentro dos muros.

Infelizmente por vezes só mesmo a devastação, que tanto pode ser exterior na forma de catástrofes como interior na forma de depressão, ataques de pânico ou doenças físicas que aprendemos se rende à frustração e aceita o convite da vida de se responsabilizar pela sua história e pela sua felicidade.

Claro que esta transição ou nova postura não é apenas um pensamento ou decisão “New Age”, a leitura de alguns livros e a práctica de Yoga. Crescer da Persona para o estágio do Espírito requer uma dolorosa morte de todas as crenças, ideias, hábitos e prioridades que trazíamos do estagio da persona. Vai exigir imensos processos de transformação, requer um compromisso com a nossa individualidade inquebrável, não admite desculpas ou justificações de cobardia. Agora nós somos a prioridade pois queremos dar ao outro o melhor de nós e não apenas representar um papel.

Estas pessoas já aprenderam que são co-criadoras da sua realidade, investem a sua energia a desenvolver o potencial que têm, a seguir o que o coração lhes pede, a constantemente por em causa as zonas de conforto e a permitirem-se sentir a vida a cada momento tendo em conta todos os custos elevadíssimos de cada uma destas decisões. Por ex, não é nada fácil eu fazer de mim uma prioridade e ir fazer algo maravilhoso por mim, sabendo que vou por os filhos em segundo plano mas terei que confiar que embora o resultado não seja imediato, ele virá a longo prazo. Ou seja, queremos ser mães e pais presentes mas frustrados e sem paciência ou mais ausentes mas vibrando em alegria e realização pessoal?

Poucas escolhas neste estágio são fáceis e implicam quase sempre o confronto entre a crença velha do que sempre fiz (mas já não resulta) e a nova crença que soa melhor mas é tão difícil ainda de implementar.

Mas serão estas pequenas escolhas, minúsculos actos de coragem de escolher pelo novo, pelo que é melhor para mim que irei garantir que o outro irá receber de mim o meu melhor. E há acto de amor mais maravilhoso??

Viver a partir do espírito é toda uma postura de responsabilidade pela sua existência, é seguir uma filosofia de vida que nos convida a fazer escolhas amorosas e conscientes, ou seja, a rearranjar toda a nossa realidade reconhecendo com um elevadíssimo grau de honestidade interior, o que já não serve e abrir espaço para o que agora fala a voz do coração.

É maravilhoso viver neste patamar mas com as bênçãos vem a responsabilidade pessoal e a proposta de viver de acordo com as leis universais.

Aqui não nos é mais permitido esconder-me num qualquer papel social e familiar ou viver a vida do outro pois agora sabemos que cada um de nós é responsável pela sua energia.

Através de quem me inspira eu percebo que o caminho é rumo à autonomia a todos os níveis pois só em equilíbrio podemos criar relacionamentos equilibrados.

Quando crescemos para a persona observamos claramente que a nossa energia está constantemente a atrair oportunidades de evoluir cada vez mais, de se pacificar com velhos karmas que voltam em busca de resolução, de nos revermos nos espelhos do que ainda vive inconsciente e como tal tenho que estar sempre atento e desperto para a realidade que me rodeia. Re-ligados de novo à Fonte, voltamos a lembrar que todos somos iguais, vindos da mesma fonte apenas com histórias únicas e com propostas de evolução diferentes e como tal abstemo-nos de opinar ou julgar a vida do próximo. Ou seja, o próximo serve apenas dois propósitos; para me espelhar o que de mim não sei e para que possamos expressar o amor incondicional. Se o outro não só não serve estes propósitos como ainda precisamos dele para algo que em nós falta, estamos ainda presos à primeira postura.

Depois de vivermos tanto tempo na negação da postura anterior e das suas respectivas consequências, temos que nos reeducar e disciplinar a nossa mente mostrando-lhe que tudo o que estamos a passar são ajustes kármicos, propostas de coragem de revelarmos a nossa essência, testes de fé para descativarmos o controle, convites de assumirmos a nossa individualidade mesmo que para isso tenhamos de chocar a agenda social de quem nos rodeia. Neste patamar o equilíbrio interior é uma prioridade, já não mais o papel social do anterior

Quem ainda vive na primeira postura resiste à ideia de que existe outra, resiste à ideia de confiar num universo ordenado e inteligente. Será uma questão de tempo até o despertar acontecer.

Quem já se identifica com a segunda, está em plena transição e processo de “desmame” do controle e medo da primeira e em desenvolvimento do que a segunda postura de responsabilidade pede. Até porque a nova era de aquário ainda agora começou e iremos precisar de pelo menos 2000 anos para que possamos aceder a todo o seu potencial.

O ser humano tem imensa dificuldade em olhar para si mesmo. Ou seja, autoanálise não nos foi ensinada e por isso é importante aceitarmos o outro como espelho perfeito do que não conseguimos perceber em nós. Tenho observado inclusive que muitos gostam de acreditar que levam vidas perfeitas sem consciência alguma do grau de inconsciência e de desequilíbrio pessoal em que vivem. Por isso, mais do que nos identificarmos a correr com a agenda que claramente soa melhor, tentemos fazer essa autoanálise para descobrir onde ainda temos ganchos que estão presos à primeira postura pois só libertando podemos então abraçar uma nova e mais poderosa e amorosa maneira de viver.

Bem Hajas!
Vera Luz

 

Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay

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