A ferida do abandono, como lidar com ela?
Todos conhecemos a dolorosa sensação do abandono, certo?
Infelizmente é uma palavra comum no mundo da terapia, mas fui observando com o tempo que é usada demais e em contextos que não fazem sentido nenhum no mundo dos adultos e no propósito terapêutico.
A verdade é que todos conhecemos essa sensação dolorosa que, por não a compreendermos e curarmos, procuramos evitar a qualquer custo.
Seja a seguir a carreira que os papás desejaram para nós, seja a submetermos-nos a pessoas que nem sempre têm os nossos interesses em consideração, seja a controlar ou manipular quem amamos, todas estas e muitas outras ações têm escondido o medo do abandono.
Sem nos darmos conta, o medo toma conta da nossa vida e das nossas relações, abafando a nossa verdade, agradamos para além do ridículo, mentimos se necessário, cedemos ao ponto do desrespeito pessoal e até usamos a violência, tudo para fugir ao abandono. Ou seja, não raras vezes, mais comum até do que queremos admitir, vendemos a nossa alma pela ilusão de segurança ou amor ou proteção que o outro nos faz sentir.
Mas será que vale a pena?
Será real este sentimento de abandono?
Faz sentido da perspectiva do adulto buscar amor no outro?
Se os meus pais, parceiro e filhos me abandonassem, eu morria?
Curiosamente, não a todas as perguntas!
Vamos olhar então melhor para o conceito de abandono.
Segundo o dicionário, abandono é;
Acto ou efeito de abandonar.
Desprezo
Renúncia
Desistência.
Negligência
Desatenção
Descuido
Indiferença
Por exemplo:
Quando vemos um animal ferido sozinho, um bebé a chorar sem que ninguém o acuda, uma criança pequena perdida na rua, um velhote em cadeira de rodas que vive sozinho, estes e outros exemplos mostram que todos têm em comum uma coisa que mexe com a compaixão da maioria dos seres humanos;
O risco de vida.
Ao imaginar a situação de cada um deles, percebemos que as chances de sobreviverem sozinhos sem ajuda, é pequena e qualquer pessoa saudável e empática, sairia para os salvar e proteger.
Podemos então associar que o verdadeiro e perigoso abandono, está sempre associado a risco de vida.
No entanto, podemos enumerar muitas outras situações que também são vistas como abandono, mas que não implicam risco de vida. Por exemplo:
Uma pessoa que vê o parceiro pedir o divórcio e sair de casa. Um pai ou mãe que pedem a um filho para sair de casa para fazê-lo crescer. Uma pessoa que teve de arranjar uma nova família para o seu gato por sofrer de alergias. Um filho que deixa de falar com os pais por tentarem controlar a sua vida. Uma mãe que deixa o recém nascido na creche pela primeira vez.
Todos estes exemplos, são vistos e sentidos socialmente como abandonos, mas em nenhuma situação há risco de vida para ninguém. Aliás, em todas, há boa intenção, há coragem, há amor próprio, há carinho e sensibilidade, há capacidade de pôr limites. Então serão mesmo abandonos?
Em todas estas situações, temos pessoas adultas, capazes, responsáveis, autónomas, corajosas, sensíveis, livres de tomar decisões importantes e positivas para as suas próprias vidas e para as de quem amam. Em nenhuma destas situações há risco de vida para ninguém.
Quem parece sofrer de abandono e se mantém nessa vibração por vezes a vida inteira, são as pessoas que se abandonaram a si mesmas, as que se apegaram demais a viver em prol do outro, as que não souberam cuidas da sua estrutura financeira, as que idealizaram ser amadas, cuidadas e protegidas como crianças de berço, sem qualquer responsabilidade pessoal sobre si mesmas, que cobram, exigem e esperam do outro tudo, como se fosse da responsabilidade de alguém preencher os seus vazios e carências.
Podemos então concluir que é natural que tenhamos alguma resistência à experiência do abandono pois como vimos, é sempre desconfortável e sinónimo de negligência e descuido e pode ser fatal nos casos extremos que vimos acima.
Mas não quando nos tornamos adultos, não quando amadurecemos as nossas emoções, não quando resgatamos a nossa força e poder pessoal, não quando aprendemos a pôr limites aos abusos dos outros, não quando aprendemos a ser responsáveis pela nossa felicidade e pelas nossas finanças e não quando deixamos de temer ficar sozinhos ou até o fazemos por escolha própria.
Quando curamos esse vazio e aprendemos a estar bem sem apegos ou dependências de ninguém, o abandono deixa de ser fonte de sofrimento, deixamo-nos de preocupar se o outro está ou não, se fica se vai. Quando amadurecemos, desistimos da cobrança, da manipulação e dos jogos psicológicos da carência pois a nossa estrutura emocional já não depende de ninguém para se preencher e manter, aprendemos a contar apenas com nós mesmos.
Infelizmente, não é raro encontrar esta ferida nas consultas e o mapa astrológico revela bem que se ela está presente na nossa vida, nas relações amorosas, e quando assim é, é natural que já tenha sido sentida na infância, e logo, já venha de vidas passadas. No entanto ela vem não como castigo ou prisão mas como ferida que nunca foi curada e que vem em busca de transformação e libertação.
Independentemente de que passado vem essa ferida do abandono, importante mesmo é sermos capazes de a reconhecer em nós e de assumirmos a cura sobre a mesma. Caso contrário ela irá manter-se na nossa vida e vazar para as gerações futuras.
Então como afinal posso aprender a lidar com o abandono?
Antes de mais reconhecer que é uma ferida tua, que ninguém poderá curá-la a não ser tu próprio ou cairás novamente na roda de nova dependência e medo de novo abandono.
Em segundo, vais evitar cair na tentação de culpar quem foi negligente, quem te abandonou, quem não cuidou de ti quando mais precisaste, mas lembrar que a tua história Karmica e as suas aprendizagens foste tu que escolheste e a cura do abandono faz parte dessas aprendizagens.
Em terceiro, investir nos opostos de abandono como por exemplo: cuidado, permanência, proteção, amparo, carinho, segurança, dedicação, amor, vigilância contigo mesm@.
Ou seja, terás que aprender a ser adult@, a cuidar de ti, a permanecer fiel a ti mesm@, a protegeres-te de pessoas e circunstâncias tóxicas, a dares-te colo e carinho quando estás triste, a segurar a tua criança interior ao colo com dedicação, amor e vigilância, nunca confiando cegamente o seu bem estar a ninguém.
Por quarto, irás um dia descobrir que foi precisamente a dor do abandono que despertou dentro de ti essa velha ferida e a necessidade de curar esse padrão, de aprenderes que o amor, a proteção e a alegria são expressões da tua luz que jamais podem depender de alguém, ou nunca saberás o que é a Liberdade de seres quem és.
Esperar tudo isto de alguém é manteres-te no lugar da criança que nunca cresce, que nunca se responsabiliza, que não amadurece e que se mantém na vibração infantil da carência e do medo.
Se queres perceber melhor a tua pessoa, a tua história Karmica, a tua missão, o teu momento actual, desafios passados e oportunidades presentes, envia email para veraluz@veraluz.pt ou ou encaminha para alguém que precise de ajuda.
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Bem hajas e até já!
Imagem de Manfred Antranias Zimmer por Pixabay