A maravilhosa escritora Anais Nin escreveu uma das minhas frases preferidas;
“Nós não vemos o mundo como ele é. Nós vemos o mundo como nós somos.”
Lembro-me de andar semanas a meditar sobre o significado desta frase e como ela afinal explicava tanta coisa. Principalmente a enorme diferença de opiniões, perspectivas e visões da realidade, minhas e das pessoas à minha volta.
Mais tarde a PNL (Programação Neuro Linguística) reforçou o conceito da frase com um dos seus princípios;
“Percepção é projeção”.
Ou seja, o mundo que vemos mais não é do que uma tela de cinema onde é projectada a nossa realidade interna.
Isso explica porque encontramos facilmente pessoas que passaram pela mesma realidade e a descrevem de forma diferente como por exemplo irmãos. Ou que quando de apresentadas a outras pessoas, deixam impressões diferentes. Ou que perante um divórcio, sentem o princípio ou o fim da vida. Ou mesmo perante um evento global como foi o caso da pandemia, seja vivida / processada / sentida / integrada de forma diferente, como ameaça ou oportunidade.
Por exemplo, se estivermos comprometidos a fazer uma dieta, esta prioridade momentânea vai condicionar-nos a dar mais atenção à forma física das pessoas à nossa volta, vai fazer-nos reparar mais depressa numa notícia que fale em alimentos, vai nos fazer estar mais conscientes quando abrimos o frigorífico, vais fazer-nos inclusivé atrair pessoas e circunstâncias que vêm ampliar essa realidade interna/externa com que nos comprometemos. “Energy flows where attention goes.”
Lembro-me que quando fiquei grávida pela primeira vez, passei meses a ver grávidas por todo o lado, carrinhos de bebé, tomei consciência de lojas de crianças perto de mim, tudo realidades que até àquele momento me tinham passado completamente despercebidas, precisamente porque internamente nada me conectava com elas.
Mas se este fenómeno já é desafiante de entender ou mesmo desconhecido para a maioria das pessoas, ainda mais complexo se torna se nos lembrarmos que já nascemos condicionados, que já trazemos memórias de experiências de outras vidas, que a nossa descrição da realidade não a define de forma neutra mas muito mais a forma como estamos condicionados, que estamos condicionados por energias que vêm cumprir a sua agenda de evolução e logo irão “arrastar” ou condicionar a nossa atenção precisamente para essas lições.
Não conhecer este fenómeno ou não nos lembrarmos dele mais frequentemente é o que nos leva a discussões inúteis ou pior ainda, a julgamentos de quem pensa ou vê o mundo de forma diferente, partindo sempre do princípio que o outro está errado e nós é que estamos a ver a realidade da forma certa.
Na verdade ela é certa sim, mas apenas para nós… e o que somos nós? uma amálgama de energias feitas de emoções, polaridades, memórias, relações, valores, princípios, prioridades e um determinado grau de consciência que vai mudando de experiência em experiência, de vida para vida. A fantástica frase do Dr. Wayne W. Dyer resume a intenção;
“Quando você julga os outros, não os define, define-se a si mesmo.”
Tendo em conta a complexidade e originalidade que cada um de nós representa, é importante lembrar que não estamos dentro do outro a espreitar o mundo pela lente dele, e a ver o que a lente dele lhe permite ver. Não somos todos iguais, não temos as mesmas prioridades, não estamos a viver os mesmos valores das mesmas maneiras. Não somos aos 20 a mesma pessoa que somos aos 40. Nem sempre estamos à altura da melhor resposta, nem sempre conseguimos ser positivos, optimistas, gratos, tolerantes simplesmente porque temos uma sombra que nos testa ao longo da nossa viagem pelo plano material.
Muito mais importante do que encontrarmos um molde de realidade que se ajuste a todos, ou lutarmos pela razão ou pela verdade, é encontrar o caminho do respeito pela diferença, pela tolerância, pelo molde diferente que cada um de nós é, pelo momento único da viagem pessoal em que cada um de nós está, contribuindo assim de formas diferentes e criativas para o colectivo. Ou seja, não nos perdermos na diversidade que nos separa, mas focarmos na humanidade que nos une.
Termino com uma das grandes jóias do pensamento Oriental;
“Mestre, como deveríamos tratar os outros? O Mestre respondeu: ‘não existem outros’.”
Bem hajas!
Vera Luz