Natal, o que de ti vais oferecer?
“There are so many gifts still unopened from your birthday”.
Hafiz
“Há tantas ofertas, ainda por abrir desde o dia do teu nascimento”, escreveu o poeta persa Hāfiz no século XIV.
O Natal é um tempo mágico que tem o poder de nos abrir o coração mais do que qualquer outro momento do ano. E embora o Sol e o calor do Verão nos desiniba o corpo e nos ajude a relaxar, a magia do Natal é um fenómeno interior, profundo, místico que nos acorda a Alma e nos relembra que por baixo de todas as camadas que insistimos em manter, existe um Ser de Luz e uma fonte de Amor. Nesse estado conseguimos sentir que o Natal não é apenas uma festa com luzes e cores. É muito mais do que isso. É um estado de espírito acessível tanto ao mais abundante como ao mais pobre. Talvez seja a época em que melhor percebemos que o estado de Ser é muito mais importante que o estado de Ter.
A crise financeira porque estamos a passar está a trazer-nos essa lição de uma maneira dura mas essencial se queremos realmente resgatar o que o ser humano tem de melhor. os shopings estão cheios de coisas apetecíveis mas cada vez há menos dinheiro para as comprar. E quando realmente não temos dinheiro para comprar o que gostávamos, o que nos resta? Darmos o que esquecemos entretanto; tempo, espaço, paciência, companhia, apoio, um passeio, um bolo, um sorriso, um abraço…
Desde o inicio da crise que dispararam iniciativas privadas, pequenos negociantes que surgiram, abafados antes pela compra fácil e que hoje, pela necessidade nos mostram as suas criações. Doces, bijutarias, as mais variadas peças de arte, ateliers de roupas, oficinas variadas de madeiras, brinquedos assim como a reciclagem, artesanato, aproveitamentos e vendas de produtos em 2ª mão, fazem hoje as delicias de muita gente tanto pela criatividade como pelos preços acessíveis. Os nossos valores estão a mudar, tanto internamente como externamente e as dificuldades que estamos a sentir são apenas um reequilíbrio de um excesso de consumismo em que estávamos a cair há uns anos atrás.
Estamos a viver tempos de transformação profunda dos quais ninguém vai sair ileso. Não que não os haja sempre mas as mudanças que estamos a viver são tão ou mais intensas do que a transição dos anos 50 para a loucura dos anos 60. Acredito mesmo que só daqui a uma boa meia dúzia de anos iremos ter consciência das mudanças do presente. E não tenho duvida que também iremos abençoar este tempo como essencial no reencontro de quem somos, da nossa essência e da nossa origem divina.
Estamos a ser convidados a sair dos ditos shopings e a voltar ao nosso centro como se um elástico invisível nos estivesse a puxar. Aos poucos os domínios onde o ego era rei vão desaparecendo para que as experiencias da alma possam então vir ao de cima e possamos assim avançar no processo de iluminação.
“Há tantas ofertas, ainda por abrir desde o dia do teu nascimento”.
Como sugere o poeta, nós somos o invólucro que guarda ainda tantos presentes dentro. Haverá por acaso alguma coisa mais importante do que um abraço verdadeiro? De que nos serve o presente caro se não somos gratos pelas pequenas abundâncias de que estamos rodeados? Para quê a mala ou relógio de marca se depois não temos o respeito de quem amamos?
As ofertas a que o poeta se refere são, como já perceberam, tudo o que podemos dar sem o cartão de crédito ou mesmo junto com o pacote que entretanto fizemos questão de comprar.
Neste Nata, dêem abraços, escrevam cartões cheios de mensagens maravilhosas, ofereçam ornamentos para a árvore de natal feitos em casa, juntem um enorme sorriso a cada embrulho. Recuperemos aos poucos a cada ano, mais e mais do verdadeiro espírito de Natal e lembrem o melhor presente são vocês próprios em estado amor. Nas reuniões de família, perguntem-se; o que de mim posso dar a alguém?
O resto é distracção…
Bem Hajam e Festas Felizes!
Vera Luz
Imagem de Alexei Chizhov por Pixabay