O Natal cheira a canela mas principalmente a Amor, convida à Paz, pede espírito de Tolerância e Boa Vontade, normalmente junto da família, para que a mais verdadeira Alegria e Inocência possam ser vividas e partilhadas.
Como é óbvio todos gostaríamos de poder sentir todos estes grandes valores e nobres emoções…
Mas o que fazer quando não conseguimos estar bem? Como furar a bolha onde a maioria se sente presa de emoções densas e pesadas? O que fazer com a tristeza, a solidão, o rancor, o medo, o ressentimento, a culpa ou um simples mas assustador vazio que sugam qualquer grama de energia positiva?
A tendência que o ser humano tem, na sua maioria, de culpar o outro para justificar o seu mal, revela que somos ainda tremendamente ignorantes e ingénuos no manuseio das leis da Vida, e como por consequência, tornamo-nos o nosso maior inimigo. Ao invés de fazermos escolhas que nos libertam, curam e empoderam, as reações e esquemas de fuga aprisionam-nos mais do que nunca a emaranhamentos energéticos complexos e logo afastados do nosso lugar de força e poder.
Num ano que dediquei ao estudo do trabalho de Bert Hellinger, partilho dois excertos do livro “Um Lugar para os Excluídos – Bert Hellinger” que se aplicam na perfeição a esta altura do ano e que servem de convite à sua aplicação nos encontros familiares de Natal..
“…O quarto círculo (do amor) ultrapassa os limites da consciência. Nele eu concordo com todas as pessoas de minha família como elas são, inclusive os excluídos e os difamados. Aqui se trata da plenitude interna, isto é, todos os que pertencem à minha família ganham um lugar em minha alma, inclusive os que foram rejeitados, desprezados e esquecidos. Sem eles eu me sentia incompleto, no corpo e na alma. Somente quando os incluo em minha alma e em meu amor é que me sinto pleno e inteiro….” “…dou, com amor, um lugar em meu coração à pessoa com quem eu estava enredado. Então já não estou separado, mas ligado a essa pessoa – não, porém, enredado. Essa ligação me faz crescer….”
Antes que alguém reaja já com frases tais como;
Como posso concordar, sentir-me ligado, dar um lugar na alma e coração a quem me abandonou, ofendeu, roubou, agrediu, lembro que a cura, a transformação e a libertação só acontecem quando permitimos que o amor volte a fluir.
São precisamente estas projeções de sombra do nosso ego que nos levam a fechar o coração e sem querer, a aprisionarmo-nos àqueles que mais julgamos e rejeitamos.
Pelo contrário, abrir o coração é um processo interno, pessoal e profundo da alma onde aliviamos tensões e permitimos que a energia do amor volte a fluir, ou seja, raramente para não dizer nunca, tem a ver com reatar relações, perdoar ou fazer pazes seja quem for ou sequer envolver contacto com alguém físico, vivo ou morto.
Segundo Hellinger, a paz acontece quando todos os elementos da nossa família têm um lugar de amor no nosso coração. Este amor representa apenas a aceitação de que o outro existe, que faz parte da nossa história, que tem uma função espiritual no nosso clã que normalmente é desconhecida para a nossa personalidade e por isso tendemos a julgar e excluir.
No entanto, para a alma todos fazem parte e a Alma Maior não nos dará descanso enquanto não aprendermos a integrar cada uma das partes. Tal como num jogo de Xadrez, nem todas as peças têm o mesmo poder ou importância, mas sem uma delas é impossível jogar corretamente. É o nosso ego ou personalidade que separa, julga, compara e condena baseado em moralismos pessoais que diferem e chocam de pessoa para pessoa, excluindo quem quer que não viva à altura deles, sem qualquer espaço para a compreensão.
Sei que não são conceitos fáceis de entender e ainda menos de pôr em prática. Qualquer bom terapeuta pode comprovar que a cura não se aprende num curso académico mas é sim uma viagem de busca que dura uma vida inteira e que implica muita abertura mental e espiritual.
Há por essa razão, todo um contexto terapêutico em que estas frases se inserem que precisam de ser levado em conta, para fazerem sentido e terem aplicação prática.
Infelizmente a cura e a gestão das emoções não fazem parte da educação básica da nossa sociedade e por isso certos conceitos são desconhecidos para a maioria. Mas posso comprovar, pessoal e profissionalmente, serem o caminho da cura e da libertação de padrões tóxicos e repetitivos, às vezes herdados de vidas passadas e ancestrais familiares e perpetuados por gerações futuras, sem necessidade.
Aliás, se a cura fosse fácil ou confortável, já todos estaríamos curados. Mas os números da depressão mostram que é uma área cada vez mais perigosa em que vale a pena investir se ansiamos por qualidade de vida.
Basta olhar para o mundo para perceber que nunca estivemos tão doentes a nível emocional, mental e espiritual, precisamente porque nos afastámos demasiado do que é afinal essencial, humilde e humano. Nos dias que correm, com a variedade de terapias e acesso à informação, já não tem que ser assim.
Deixo por isso uma proposta sistémica “relativamente simples” para os dias de encontros familiares ou simplesmente para dedicares aos teus ancestrais.
A proposta é aprender a olhar para os outros com o coração aberto, sem julgamento, de humano para humano, permitindo que o amor volte a fluir e afirmar internamente;
“Com o coração cheio de amor e humildade eu agradeço,
Meus queridos Pais, Avós, Familiares e Ancestrais,
Eu vejo-vos e honro a vossa existência pois assim honro a minha vida e as minhas raízes.
Lamento muito as vezes que culpei, exigi, cobrei, acusei sem saber ainda agradecer a maior dádiva que recebi que é a minha Vida.
Eu sinto com vocês as dores, frustrações e ressentimentos assim como as paixões, alegrias e celebrações que fizeram e fazem parte desta família.
Essa é a vida que nos une, embora sejamos todos diferentes.
Nem melhores, nem piores, apenas diferentes.
Ninguém fica de fora, todos têm o direito de pertencer.
Somos todos humanos e por isso todos amamos e todos sofremos.
Eu não sei o que é estar no teu lugar assim como tu não sabes o que é estar no meu.
Por essa razão não te julgo nem à tua vida nem à tua pessoa nem às tuas escolhas
assim como liberto agora julgamentos, expectativas, pesos e lealdades inconscientes que me foram dirigidos.
Cada um fica no seu lugar, com o que é seu, que é afinal onde pertence o seu lugar de poder.
Tu e eu pertencemos ao mesmo clã e por isso eu, no meu lugar, honro a minha e a tua existência, no lugar e na hierarquia que nos pertence.
Com amor, deixo as tuas escolhas contigo e livre e leve, sigo para a frente com a minha vida.”
Se queres aproveitar melhor o Natal, perceber melhor a tua pessoa, a tua história Karmica, a tua missão, o teu momento presente, marca a tua consulta enviando email para veraluz@veraluz.pt
Bem hajas e até já!
Vera Luz
Imagem de Jill Wellington por Pixabay