Muitos são os obstáculos ao nosso equilíbrio e auto-conhecimento interior; um mundo cada vez mais cheio de tralhas tentadoras e apetecíveis e de intensas e maravilhosas experiências que no entanto nos desviam o foco desse tão desejado equilíbrio interior. Ora já o Oráculo de Delfos nos sugeria “Conhece-te a ti mesmo” e se hoje parecemos estar tão longe dessa premissa, acredito também que nunca estivemos tão perto…
Desde sempre que o homem teve consciência da dualidade da experiência humana. Somos metade visível, metade invisível. Metade masculino, metade feminino. Metade Terra, metade Céu. Metade Luz, metade sombra e a verdade é que só na dualidade podemos encontrar equilíbrio. Aliás equilíbrio não é mais do que um jogo de forças entre duas partes e em nós tenho observado que estamos neste momento a trabalhar a dualidade entre o que está consciente e o que está inconsciente em nós.
Chegámos a um ponto tal de desenvolvimento tecnológico e científico e de identificação com a matéria que muitos de nós chegam a pôr em causa ou negam mesmo a nossa origem energética ou espiritual.
Mas se o grande, para não dizer único, propósito da experiência humana, é esse equilíbrio, e se para atingir esse equilíbrio tem de haver auto-conhecimento, o Universo é inteligente suficiente para nos ajudar a chegar a bom porto tenhamos consciência disso ou não.
A esse fenómeno eu chamo de espelhos e para o qual reservei um capitulo no meu primeiro livro “Regressão a vidas passadas”.
Hoje muito se fala da Era de Aquário e da chegada da Era de Ouro ou Era do Amor. Será, esperamos todos, uma Era de conhecimento, de inteligência emocional e sabedoria, de escolhas conscientes fazendo do autoconhecimento e do individuo, uma prioridade por oposição à Era de Peixes. É a Era da Fé consciente em que só acreditamos e aceitamos o que nos faz sentido INDIVIDUALMENTE, ou seja, que faz parte do nosso caminho pessoal, sabendo também que cada um de nós tem o seu próprio caminho individual do qual só o próprio sabe e sente.
Acabámos de sair da velha Era de Peixes que primava pela vitimização associada à culpa, ao julgamento e ao medo. O foco estava no exterior, no outro, na divisão, na identificação ao nível do ego ou da máscara e não ao nível da Alma. Viveu-se o espírito de competição ao limite tornando-nos defensivos, reactivos e agressivos. Logo a nossa energia predominante era a do medo. Como arma de defesa para fugir a este desconfortável medo passámos a investir no outro com armas suficientemente fortes capazes de desmoralizar o “inimigo”; incutir o mesmo medo através da culpa e do julgamento chegando ao ponto de tornarmos Deus o grande julgador dando-lhe inclusivé direito a ter o dia do julgamento!
Depois de 2000 anos e muitas vidas a beber deste sumo, ainda hoje resistimos a acreditar que somos Luz, que viemos e voltaremos a uma fonte de Amor, que SOMOS Amor, e que tudo o que nos acontece, seja a maior bênção como a pior perda está a conspirar, a um nível muito elevado, para a nossa iluminação.
Durante estes 2000 anos desligámo-nos de nós próprios e tal como qualquer oculista facilmente ajusta a nossas lentes, passámos a focar apenas no exterior, no outro, no que está fora não percebendo que tudo o que está fora tem uma directa e perfeita ligação com o que está dentro de nós. Durante todo esse tempo o nosso interior esteve “desfocado”…
Sendo assim, andamos a lutar com outros que apenas representam ou personificam os nossos próprios demónios assim como andamos a adorar e a alimentar quem personifica os nossos potenciais em vez de canalizar esse amor e adoração para nós próprios.
Por exemplo, julgamos ditadores implacáveis, capazes de destruir o mundo, cegos, surdos e mudos perante a sensibilidade e beleza da experiência humana longe ainda de reconhecermos que também o somos por exemplo com a nossa sensibilidade e criança interior.
Depois adoramos chefes de religiões como o Papa ou Dalai Lama que são representações do que seria o melhor do ser humano esquecendo que somos o nosso próprio Guru.
Este é o fenómeno dos espelhos. Ou seja, sabendo que somos seres energéticos e como tal, magnéticos, onde quer que estejamos vamos atrair as energias que carregamos. Ou seja, estamos continuamente a viver o antigo ditado “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.
A questão hoje já não é a de saber se o fenómeno é real ou não pois hoje não tenho duvidas dele. A questão hoje é, até que ponto já conseguimos identificar os espelhos na nossa vida ou não…seja a um nível pessoal ou global como os exemplos que dei.
Na Era de Peixes o outro era um individuo perfeitamente independente da nossa pessoa. A atitude do outro estava sob a mira do nosso julgamento ao ponto de o condenar de acordo com os nossos próprios valores pessoais e incutida a culpa caso o outro não seguisse esses mesmo valores ou mesmo agressividade e morte dependendo do poder das pessoas envolvidas. Era o puro e bruto embate de máscaras sem qualquer ligação ao mundo interior.
Na Era de Aquário o outro é um espelho da nossa energia (consciente ou inconsciente). A atitude do outro revela aspectos que normalmente estão ainda tão inconscientes dentro de nós que se torna necessário o outro personificá-los Às vezes em exagero para que saiam da nossa sombra. Ao reconhecer tanto os nossos demónios como os nossos potenciais, ganhamos centro, poder sobre nós próprios, amor próprio e logo deixamos de ficar sujeito ao outro nas suas mais variadas manipulações. Passamos a ser o nosso próprio Guru.
Saber reconhecer estes espelhos torna-se então fundamental e uma chave valiosa para a nossa autonomia e evolução.
Se são espelhos maravilhosos os que atraimos, pessoas abertas, doces, verdadeiras e sensíveis, se são pessoas com as quais nos sentimos bem, são potenciais escondidos, partes de nós que admiramos, ansiamos por ser, que temos como proposta para a vida presente, mas ainda não conseguimos personificar.
Se são espelhos menos agradáveis, se atraímos ainda pessoas fechadas, possessivas, julgadoras, agressivas, insensíveis, medrosas, vitimizadoras, seja qual for a característica menos bonita, ela existe dentro de nós num qualquer grau. São pessoas que nos desgastam, são energias que um dia já foram a nossa persona e por não as termos ainda aceites em nós, trazemos como proposta fazermos as pazes com elas através dos outros.
Devo dizer que depois de anos a lidar com o ser humano no seu lado mais sagrado e profundo, nada é mais transformador do que ver alguém a aceitar a sua sombra, a reconhecer as suas imperfeições e reconhecer as suas qualidades que até ali estavam negadas ou escondidas por uma qualquer antiga e velha culpa. Não é demais por isso lembrar o quanto afinal todos somos iguais por dentro. Bolos diferentes saídos da mesma massa como costumo brincar.
Aceitar essas sombras não é um processo fácil e curiosamente resistimos tanto à nossa sombra como resistimos à Luz pois para chegarmos à Luz temos que passar pelo túnel da consciência da sombra. Por isso vamos sempre atrair espelhos das duas naturezas.
Reconhecer que um dia já fomos o carrasco é um salto quântico na nossa vida e na nossa evolução.
Feliz aquele que já consegue enumerar as suas sombras e as suas qualidades e que sorri a falar de todas elas com a mesma calma e naturalidade. Esse descobriu já que a experiência humana completa só é possível quando vivemos tudo em todas as suas vertentes positivas e negativas, masculinas e femininas, Yin e Yang.
Algures na nossa experiência, a existência do velho ego com a sua energia aspiradora de atenção, egoísmo e perfeição, fez-nos cair na armadilha de viver apenas um dos lados da balança levando-nos a viver desequilibradamente pondo mesmo em causa a nossa evolução e felicidade interior para levar a cabo as suas fantasias de ser “Ganhar e ser O melhor”.
Felizmente a sua existência e domínio sobre nós está dependente da nossa inconsciência o que significa pelo estado de despertar do mundo que os seus dias estão contados.
Fica assim a proposta para que passemos a olhar para o que está fora como um espelho do que está dentro e aos poucos levarmos a Luz às nossas sombras tal como nos está a pedir Saturno em Escorpião até 2015.
Que a cada encontro se pergunte;
ESPELHO MEU, ESPELHO MEU… O QUE ESTÁ ALI DO MEU EU?
Vera Luz
Imagem de beate bachmann por Pixabay