Sabes aquela sensação de só depois de uma discussão, lembrarmos tudo o que devíamos ter dito e não dissemos? Ou pelo contrário de termos dito algo que não queríamos ter dito? Ou depois de uma tarefa ou desafio exigente, de que podíamos ter feito tudo de forma diferente e até muito melhor?
Acontece a todos e há pelo menos três explicações para o fenómeno.
1- É hoje sabido e provado que a frequência do coração é bastante mais lenta do que as frequências mentais. Ou seja, a meditação é precisamente a proposta de desaceleramento mental para que a mente entre em sintonia com as mais lentas vibrações do coração e possamos então ter uma visão ampla da realidade, das diferentes perspectivas e da dualidade que somos e que gira à nossa volta. É essa reconexão interna ou harmonização da mente e coração, que permite a amorosa e superior compreensão dos eventos e a capacidade de dar resposta positiva ao invés das reações negativas e exageradas, tanto mentais como emocionais. Escusado será dizer então que durante um conflito, essa tranquilidade torna-se impossível e o ego passa a ser resposta reactiva e imediata.
2- Fora do desafio, longe do campo de batalha, na bancada, todos são sábios e seriam capazes de resolver qualquer conflito, precisamente porque estão longe e logo a observação distante do conflito ajuda a manter a ligação do coração com a mente. Fora da situação ou desafio, é fácil ter opiniões moralistas do “podias e devias” e conselhos sábios, é fácil idealizar respostas e desfechos perfeitos, mas apenas porque não há envolvimento direto, não há provocação externa, não há pressão emocional, não há stress, o trauma está desativado e logo, uma maior probabilidade de dar resposta positiva.
3- Sem trabalho e investimento interior terapêutico no que toca à nossa consciência, às nossas emoções, aos nossos padrões e infinitos triggers dos nossos traumas, é muito difícil de distinguir a diferença gigante entre testes do ego e propostas da Alma.
Ou seja, o ego reage, defende-se, ataca, age por sobrevivência. A Alma procura compreensão, sente, tenta dar resposta positiva, amorosa e evolutiva. Obviamente que se não somos educados a procurar a visão da Alma, a reação imediata e instintiva do ego toma conta da situação por uma questão de sobrevivência pessoal. Ou seja;
-O nosso ego só lida com o real, visível e porque rege o corpo que tem tempo limitado, vê qualquer trigger externo como uma ameaça vital da qual tem que se defender. Para a Alma, todas as experiências são válidas e degraus essenciais ao processo de evolução. E porque sabe que todas escondem uma peça valiosa de si mesma e o degrau da próxima etapa, ela acolhe, integra, procura a jóia e abraça toda e qualquer experiência.
– Para o nosso ego o objetivo é ganhar, estar acima, chegar primeiro, ter razão, ter só para si. Para a Alma o objetivo é compreender, analisar, integrar e transformar em algo melhor para si e para o coletivo do qual faz parte.
Conclusão; é essencial conhecermo-nos a nós próprios, pois nós não somos a pessoa calma e tranquila que gostaríamos ou acreditamos ser, capazes de controlar o desfecho positivo de todas as situações. Se ainda acreditas nisto, vives numa ilusão!
Temos no nosso inconsciente, memórias, dores, feridas e traumas carregados de outras vidas, que até hoje nunca tiveram oportunidade de vir à luz, de serem integradas, curadas e transmutadas e são precisamente essas cargas que virão ao de cima, nos momentos de tensão. Aliás, a crise É a oportunidade de abrir o baú e libertar essa densidade aprisionada no inconsciente. Sem esse trabalho de cura, nunca seremos realmente livres, nunca sentiremos o verdadeiro amor livre, não conseguiremos evoluir, ficaremos prisioneiros dessas mesmas energias que se irão recriar eternamente em formas e pessoas diferentes, até que a cura aconteça.
O nosso historial passado nos mostrará como esse inconsciente tende a nos surpreender e a condicionar as respostas reativas que nem imaginávamos ter perante as agulhas de acupuntura da vida nos vêm propor a cura. O auto conhecimento e investimento pessoal serve precisamente para conhecermos os nossos gatilhos e ao invés de responder negativamente, sermos capazes de usar esses momentos alquímicos para dar resposta positiva, evolutiva, libertadora e amorosa.
Se queremos aproveitar os desafios que servem então para evoluir, precisamos lembrar que a proposta do desafio não é ganhar perante o outro, não é ter razão ou sair vitorioso seja com quem for. É sim superar a nossa própria reatividade e descontrole. É sim para reconhecermos que dores em nós foram acordadas. É sim porque chegou o tempo de libertar mais carga do inconsciente. E perante esta visão e quando conseguido este nobre objectivo, seremos capazes até de agradecer aos carrascos da nossa vida a possibilidade de libertação dessas sombras.
Ou seja, ganhamos sim, mas quando identificamos a nossa sombra, os velhos traumas e permitimos que eles venham à luz, que sejam acolhidos, vistos, compreendidos e transmutados. Ganhamos sim quando mantemos a calma em situações de atrito, quando lembramos que o outro é a proposta de auto-cura e observamos o nosso corpo, as nossas emoções e ideias e permitimos que a relação mente e coração se faça para que a cura aconteça. Ganhamos sim quando escolhemos ver a situação pela lente da alma e não pela violência do ego.
Todos temos situações de atrito e pessoas difíceis à nossa volta. Vejo muitas pessoas a simplesmente evitá-las, fugir delas, julgá-las de longe e a acreditarem-se melhores ou superiores. Mas essa postura apenas serve o ego e o seu interesse egoísta e defensivo. No entanto, esta postura em nada serve o interesse evolutivo e amoroso da Alma e por isso irá ser cosmicamente boicotado até que a cura e libertação aconteça.
Algures precisamos aprender a identificar essas tensões e reaprender a olhar essas mesmas pessoas e eventos, pelos olhos da compreensão e do amor da alma.
Não se trata de encontro físico, de fazer as pazes com ninguém, de “perdoar” seja quem for ou sequer de aceitar o que o outro fez de “errado”.
Trata-se sim de compreendermos porque ele está na nossa vida, e que proposta evolutiva e de transformação pessoal ele esconde para nós. Enquanto não houver este trabalho de consciência e validação interior, não nos livraremos dessas tensões.
Se queres perceber melhor a tua pessoa, os teus Triggers, as pessoas difíceis à tua volta, a tua história Karmica, a tua missão, o teu momento actual, desafios passados e oportunidades presentes, envia email para veraluz@veraluz.pt ou liga 967988990.
Até já!
Vera Luz
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
