A imaturidade, inocência e ingenuidade típicas da primeira infância, levam a criança em nós a idealizar os pais, a vê-los como os seus heróis, dois Deuses que lhe deram a vida.
Vamos por isso projetar e esperar desses pais uma representação divina perfeita como a proteção, o amor incondicional, a segurança, a validação, o alimento, o porto seguro, etc.
Mas todos sabemos bem que estas expectativas são irrealistas. São apenas uma ilusão da criança em nós, que irá gerar dolorosas desilusões quando começar a perceber que os pais são apenas imperfeitos humanos.
A verdade é que os pais não são Deuses ou sequer perfeitos. São também eles duas crianças, com as suas próprias ilusões, dores e projeções, quantas vezes sem terem feito o importante processo de maturidade, que foram apanhados na roda do tempo e algures tiveram um filho.
Infelizmente, devido à falta de escolas, mentores e educação emocional e espiritual, a maior parte de nós nem sequer sabe o que é um processo de individuação e perdemos a importância dos rituais de maturidade ou de passagem à idade adulta. Ou seja, todos vemos o corpo crescer e iludimo-nos com a imagem de adulto, mas emocional e espiritualmente, podemos ficar imaturos, no estágio da criança a vida inteira, com as respectivas consequências emocionais.
Temos então um fenómeno que, acredito todos já observámos; adultos com comportamentos infantis, irresponsáveis, sem consciência ou responsabilidade nenhuma pelo mal que causam. Tal como vemos o fenómeno do “Bully” nas escolas, assim seguem na fase adulta pois não existe qualquer processo terapêutico de autoconsciência.
Resiste à ideia de achares que eu estou a falar de outras pessoas pois na realidade é um problema coletivo e todos estamos envolvidos. Ou ainda estamos no lugar da criança, inconscientemente a criar problemas, ou já estamos no lugar do adulto, mas a lidar karmicamente com as crianças que um dia também fomos.
Sem qualquer conhecimento ou consciência do estado de imaturidade interna, o corpo desenvolvido irá iludi-lo a ver-se como adulto e maduro e de repente está a casar, a ter um emprego, a ter filhos, arrastando a sua imaturidade para cada uma destas áreas.
Vou dar o exemplo dos pais & filhos para percebermos uma das dores mais comuns do ser humano; a falta de amor na infância.
Crescer com pais infantis, abusivos, imaturos, narcisistas, ausentes, levarão a criança a sentir que algo nela não é ou foi suficiente para receber o amor, para se sentir amada, protegida e merecedora.
Algo dentro dela lhe diz que não é suposto viver sem amor e por isso a sua imaturidade emocional irá levá-la a acreditar que é ela que tem um problema e irá procurar incessantemente o amor nos pais, pois ainda não desenvolveu a sua individualidade e por isso não consegue reconhecer-se ou amar-se a si mesma.
Por sobrevivência, a criança vai desenvolver mecanismos vários para conseguir esse amor, seja fazendo o que lhe pedem, de ser o que esperam dela, de usar a sua criatividade para agradar os pais das mais variadas maneiras ou até a manipular pela violência ou pelo silencia, aprendendo assim que o amor vem de fora e implica jogos, sacrifícios e anulação pessoal para o conseguir.
Presos à sua própria imaturidade e irresponsabilidade pessoal, os pais não saberão reconhecer, amar e validar nos filhos o que não foi reconhecido, amado e validado em si mesmos pois é um padrão que já vem de trás. Irão por isso provavelmente projetar todo o seu drama interno na criança seja exigindo-lhe perfeição ou abandonando-a física, psicológica ou emocionalmente.
Ocupada a tentar em vão receber o amor, o reconhecimento, a valorização dos pais, seja sendo a criança perfeita ou a rebelde chamando a atenção, a verdadeira identidade da criança, os seus talentos, os seus dons e conquistas, o seu valor e sua verdadeira identidade, irão ser reprimidos e passar despercebidos conforme vai crescendo. Se ninguém a viu como inteira, com qualidade e defeitos, ela não saberá reconhecer esses aspectos em si
Mais tarde, exausta da dor da desilusão e imcompreensão permanente de não conseguir receber o amor dos pais (pai e/ou mãe) e ainda sem qualquer consciência de si e do seu amor próprio, a criança agora crescida vai em busca desse amor noutras fontes de compensação, pois só conhece essa forma de amor vindo de fora.
Relacionamentos, filhos, sogros, carreira, chefes, amantes, colegas, familiares, todos servirão para conseguir a tão desejada sensação de amor. Para isso a criança crescida irá desdobrar-se e continuar os jogos e esquemas de conseguir esse amor que desenvolveu na infância, com as respectivas frustrações e desilusões.
Pior ainda, a energia inteligente que fez a alma da criança escolher os pais como perfeitos para que a intenção evolutiva se cumprisse, irá ser fiel à proposta da vida presente e reproduzir o pai e a mãe em todas as pessoas que irá atrair pelo caminho.
E porquê? Porque há lições valiosas preparadas para cada encarnação. Porque essas lições estão congeladas uma vida inteira no nosso mapa natal. Porque por exemplo, a ausência de amor dos pais, esconde a difícil lição do desapego e o convite da aprendizagem do amor próprio.
Ou seja, tudo é como tem que ser.
A nossa vida obedece a leis que desconhecemos e tem um plano espiritual muito superior aos planos que insistimos em fazer ou às expectativas irrealistas que queremos alimentar.
Todos os movimentos da vida servem para nos devolver à plenitude que somos e não há plenitude sem processo de maturidade e responsabilidade pessoal.
Por isso, os planos que fazemos como esquemas infantis de sobrevivência emocional, psicológica e espiritual, criando apegos, dependências e ilusões, irão ser sempre boicotados pela vida, ou não evoluiríamos.
Infelizmente, a maioria vive assim, sem consciência pessoal ou espiritual, sem noção dos fios Karmicos que nos aprisionam aos pais, às nossas vidas passadas, aos nossos ancestrais, às pessoas à nossa volta e mantemos os esquemas infantis de apego e expectativa, tudo em nome do amor.
Mas este tipo de amor não é ainda o amor com A* grande mas sim o amor cego, o amor sofrido, o amor iludido, sacrificado, infantil, ingénuo e com dor que obviamente, nenhum de nós deseja.
Só depois de tomarmos consciência destes esquemas de sobrevivência que criámos na infância, de quem realmente! somos, dos vazios que carregamos, das ratoeiras em que nos deixámos apanhar, das lealdades inconscientes que estamos a fazer, da própria imaturidade pessoal de esperar amor do outro, podemos então começar o caminho de resgate, de cura, de libertação, de retorno à nossa plenitude, à nossa luz e ao amor próprio.
Estas dores não se resolvem sozinhas com o tempo, não se esquecem, de nada vale acreditar que foram culpa de alguém e ficar no lugar da vítima.
A única maneira de curar estas feridas é identificando os nossos velhos esquemas de sobrevivência, de libertarmos as velhas ilusões e cairmos na realidade de que ninguém nos deve nada ou sequer nos vai salvar e que precisamos ganhar responsabilidade sobre a cura e transformação dessas sombras em nós.
Deixo-te então algumas sugestões;
– Reconhece finalmente que o que sempre buscaste nos outros; amor, atenção, validação, respeito, colo, seja lá o que for, é um sinal de vazio interno e por isso uma responsabilidade tua em preenche-lo. Ninguém nasceu para preencher os teus vazios ou curar as tuas feridas assim como tu não és responsável pelas de ninguém. E se ainda achas que as tuas feridas são culpa dos pais, relações, filhos, sugiro leres o teu mapa astrológico para perceberes que esses desafios já estavam alinhavados no momento do teu nascimento.
– Faz um bom exame de consciência e observa-te em cada uma das tuas relações; estás mais preocupad@ em receber, ainda tens esquemas e expectativas que o outro te dê algo? ou já percebeste que ainda estás pres@ à ratoeira da expectativa? Observa se nas relações que manténs o dar e receber estão em equilíbrio o ainda dás demais para depois cobrar?
– Procura terapia a sério. Não um terapeuta que tem peninha de ti e das tuas dores, mas sim um terapeuta que sabe identificar padrões Karmicos, que te mostra que a vitimização é um beco sem saída e que o caminho da cura passa pela mudança e responsabilidade pessoal.
– Aprende a sentares-te com a tua dor, tristeza, solidão, rejeição sem fugir, sem esconder, sem disfarçar. Apenas reconhece a tristeza e permite-a vir ao de cima e senta-te com ela, acolhe-a, mostra-lhe que estás disponível para ti mesma e para te acolheres e amares. O trabalho com a Criança Interior é essencial nesta viagem de cura.
– Se já reconheceste que os pais não foram o que precisavas, liberta-os com carinho e gratidão pela vida pois deram o que conseguiram e a ti cabe-te como adult@ ires em busca do que faltou. Deixa por isso ir as cobranças e necessidade de validação assim como todas as idealizações, exigências, projeções, críticas e julgamentos que recebeste no lugar do amor. Lembra com humildade que cada um dá oque tem e se eles deram dor, é sinal que também eles vivem na dor.
– Lembra que não és vítima de nada nem ninguém e que eles fazem parte do teu Karma. Como fruto da união deles, tu és a nova oportunidade de evolução dos padrões que eles carregam. As dores que sentes, eles sentiram ainda mais e agradece poderes ter hoje a ajuda terapêutica e entendimento que eles provavelmente nunca tiveram.
– A partir do momento em que consegues ver os pais pelo olho do adulto, vais finalmente conseguir atingir um patamar saudável de responsabilidade por ti mesm@ e pela nova relação onde irás conseguir colocar limites que asseguram o teu próprio bem-estar e equilíbrio pessoal e desenvolver a compaixão pelas dores que eles próprios carregam e que os impossibilitaram de te dar o amor esperado.
– Uma frase diz que “Para as crianças poderem ser crianças, o pais têm que ser adultos”. As dores que temos da infância, são na maioria precisamente, como vimos acima, porque os pais não eram adultos. Infelizmente, não basta a boa vontade que todos temos de que os nossos filhos não sofram o mesmo que nós sofremos. Se não fizemos o processo de cura dos nossos pais, é sinal que ainda estamos na criança e logo, não seremos capazes de ser os pais adultos que os nossos filhos precisariam.
– Resta definir a palavra adulto; alguém responsável por si mesmo, alguém que não espera nada de ninguém, alguém que agradece o que tem, alguém que nutre as suas próprias necessidades, físicas, psicológicas, emocionais e espirituais, alguém que sabe que tem em si os recursos suficientes para viver a sua vida, alguém responsável pela sua própria felicidade, alguém que sabe a diferença e equilibra o dever e o prazer, alguém que sabe que o esforço compensa e que a facilidade não traz retorno, alguém que vê o desafio ou problema como oportunidade de superação pessoal, alguém que consegue ter compaixão pelo sofrimento do outro mas não assume responsabilidade por ele, alguém que respeita a sua origem, as suas raízes, os seus pais e ancestrais ou não conseguirá como a árvore, erguer-se e manter-se de pé saudável, alguém que assume as escolhas e as consequências das mesmas e percebe quais as leis e regras que pode ignorar e quais aquelas que precisa obedecer, alguém que está mais preocupado em plantar do que em colher e muito menos cobra ou se vitimiza pelo que nunca plantou.
Se queres perceber melhor a tua infância, os teus pais, a tua pessoa, a tua história Karmica, a tua missão, o teu momento actual, desafios passados e oportunidades presentes, envia email para veraluz@veraluz.pt ou ou encaminha para alguém que precise de ajuda.
Bem hajas e até já!
Vera Luz
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