Há uns dias dizia a alguém que sentia todo o seu discurso e relato de eventos com muita raiva. De imediato a pessoa responde que não está com raiva mas sim tristeza.
É importante não confundirmos emoções e por isso mesmo elas têm nomes, activam estados de espírito diferentes, têm expressões diferentes, mexem músculos da cara diferentes. Por razões culturais mas principalmente religiosas, pois a raiva é vista negativamente e quase como pecado, é aceitável dizermos que estamos tristes mas não que estamos com raiva.
Mas fora das caixas moralistas do bonito/feio e certo/errado, a raiva não é negativa, nem feia, nem algo a esconder ou a evitar, é sim uma emoção natural do ser humano, vivida logo desde a primeira infância e que revela antes de mais desconforto, frustração ou mesmo dor.
A questão não é tanto se a raiva é bonita ou feia, mas sim o que fazer quando sentimos raiva?
Qualquer estatística terapêutica mostra que os maiores agressores, pessoas capazes de violência e crimes horrendos, escondem em si histórias de abandono, rejeição, violência, abusos, em ambientes onde foram obrigados a proteger-se e a sobreviver com máscaras duras.
A raiva é o resíduo destes ambientes onde a falta de amor, de cura, de empatia e consciência leva a um ciclo repetitivo de abandono, rejeição, violência e abusos. O abusador começa por ser a vítima e a vítima torna-se no novo abusador.
Como interromper este ciclo?
Quando pararmos de projetar a culpa e tomarmos consciência de que nós próprios carregamos em nós tanto a vítima como o abusador e que nos cabe a nós identificar essas duas energias e neutralizá-las para que não voltem a ser projetadas em ninguém.
Vista de forma neutra, a raiva é a forma ou o sinal que nos diz que algo ou alguém não está a respeitar a nossa integridade, o nosso equilíbrio e bem estar.
Num saudável e consciente processo de cura, se soubermos reconhecer a lei do karma e a lei da atração por trás dos eventos, se assumirmos a responsabilidade pelo que nos acontece, iremos reconhecer e até agradecer a raiva pois ajuda-nos a identificar o que ou quem nos está a causar esse sentimento para que possamos escolher novas circunstâncias que melhor nos sirvam.
O problema é não estarmos conscientes de que tudo o que acontece tem uma razão válida e positiva por trás, é não sabermos ler os sinais da vida o que nos leva a fazer “justiça” pelas próprias mãos, a resolver o que nos dói projetando, controlando ou retirando o outro como se apenas o outro fosse responsável pela dor que sentimos. Ou seja, não é o outro que tem o poder de nos ofender mas sim nós a incapacidade de percebermos o papel do outro na nossa realidade e de nos protegermos através de comunicação assertiva e limites saudáveis que demonstrem o que permitimos ou não.
Bom ou mau são apenas adjetivos subjetivos que precisam de enquadramento para fazerem sentido. Matar alguém é mau como ofensa à integridade do outro mas matar alguém como acto de defesa pessoal ou de um inocente passa a ser um acto nobre e corajoso.
Assim é a raiva, se servir a má intenção irá destruir, ofender ou até usar a vitimização para perpetuar o sofrimento. Mas se servir a boa intenção e a consciência pessoal, a raiva é o motor de arranque de mudanças há muito adiadas, é o fogo que alimenta a coragem que permite a defesa e a integridade pessoal. É a energia que ajuda a transformar o velho em algo novo.
Sinceramente, se mais pessoas tivessem a coragem de assumir a sua raiva ao invés de a esconderem com nomes fofinhos, mais mudanças e actos de coragem veríamos. Não a raiva destrutiva que se projeta negativamente em cima de algo ou alguém mas a raiva criativa, a da libertação, a que nasce do amor próprio e do merecimento, que serve para a criação de uma nova realidade.
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Bem hajas e até já!
Vera Luz
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